Diabetes e sono: como a relação afeta o gerenciamento glicêmico?

A relação entre diabetes e sono é complexa e bidirecional: significa que um pode influenciar o outro negativamente. Pessoas com diabetes frequentemente enfrentam distúrbios, como a apneia obstrutiva do sono e a síndrome das pernas inquietas, que podem dificultar o gerenciamento dos níveis de glicose no sangue.

Caracterizada por obstruções repetidas das vias aéreas enquanto a pessoa dorme, a apneia obstrutiva do sono pode levar a episódios de hipoxia que afetam adversamente o metabolismo da glicose. Por sua vez, a síndrome das pernas inquietas ocasiona desconforto e movimentos involuntários, perturbando o descanso e, consequentemente, o gerenciamento glicêmico.

Qual a relação do sono com diabetes?

A qualidade do sono influencia diretamente na capacidade do corpo de regular os níveis de glicose. Estudos indicam uma conexão direta entre um descanso adequado e o manejo eficaz do diabetes. Ele não é apenas um período de repouso para o organismo, mas um estado ativo em que ocorre a regulação essencial de processos metabólicos, incluindo a glicose no sangue. E a sua insuficiência pode acarretar o aumento da resistência à insulina e alterações hormonais.

A duração do sono necessária para um descanso adequado varia de pessoa para pessoa, com a recomendação de profissionais de sendo de pelo menos sete horas por noite. Um novo estudo publicado na revista JAMA Network Open revela um dado preocupante: adultos que dormem entre três e cinco horas por dia podem ter um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2. A pesquisa, realizada pela Universidade de Uppsala na Suécia, utilizou dados do UK Biobank, que acompanha informações de milhões de pessoas no Reino Unido.

A falta de sono e o diabetes tipo 2

Os pesquisadores acompanharam 247.867 pessoas ao longo de uma década e encontraram uma ligação clara entre a falta de sono e um aumento no risco de diabetes tipo 2. “Nosso estudo destaca a importância do sono na prevenção dessa condição. Mesmo uma alimentação saudável não pode compensar os efeitos adversos da privação de sono”, explica Christian Benedict, professor associado e principal autor do estudo.

Benedict, que é especialista em sono e membro do Departamento de Biociências Farmacêuticas da Universidade de Uppsala, acrescenta que, apesar de compreender os desafios de equilibrar vida pessoal e profissional, deve-se priorizar o sono para manter a saúde. “Como pai de quatro adolescentes, sei que isso pode ser desafiador”, comenta Benedict.

O estudo também ressalta que, embora hábitos alimentares saudáveis estejam associados a um menor risco de diabetes, eles não são suficientes para neutralizar os efeitos negativos da falta de sono. Mesmo pessoas com uma alimentação equilibrada apresentaram um risco maior de desenvolver a doença quando dormiam menos de seis horas por noite.

O diabetes tipo 2 é uma condição caracterizada pela resistência à insulina, que ajuda a regular os níveis de açúcar no sangue. Este tipo de condição é frequentemente associado a hábitos de alimentação inadequados e sedentarismo, e pode levar a outros problemas de saúde, como hipertensão e obesidade.

Insuficiência de sono e seus riscos

Outro estudo norte-americano anteriormente já tinha mostrado que a insuficiência de sono e os seus distúrbios eram fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes. Na época, essa descoberta era particularmente preocupante, considerando que cerca de um terço da população dos EUA sofre com a falta de sono. Além disso, a apneia —a qual é altamente prevalente entre adultos de meia-idade e mais velhos—afeta três quartos ou mais das pessoas com diabetes.

A literatura atual aponta para mecanismos fisiológicos e comportamentais que conectam a repouso ao aumento do risco de diabetes, além de estarem relacionados ao risco de obesidade.  No entanto, a comunidade científica tem enfatizado que são necessárias mais investigações para esclarecer as conexões epidemiológicas entre o diabetes e os diferentes tipos de distúrbios do sono, bem como para entender melhor os mecanismos pelos quais afeta a disfunção metabólica.

O impacto do ritmo circadiano no risco de diabetes

O ritmo circadiano é um ciclo biológico de aproximadamente 24 horas que regula diversas funções fisiológicas no organismo, alinhando processos biológicos com o ciclo de luz e escuridão do ambiente. Esse ritmo auxilia a sincronizar comportamentos e funções corporais, incluindo sono, metabolismo e regulação hormonal.

Quando o ritmo circadiano é perturbado pela falta de descanso,  a capacidade de o corpo regular processos biológicos fica comprometida. A exposição insuficiente à luz natural e a interrupções no padrão de sono podem desestabilizar o relógio biológico interno, localizado no núcleo supraquiasmático do hipotálamo. Isso interfere na produção de melatonina à noite e na regulação do ciclo sono-vigília, levando a padrões fragmentados e baixa qualidade de repouso.

Efeitos da falta de sono no metabolismo e diabetes

Desregulação do metabolismo

A falta de sono afeta diretamente a liberação de hormônios envolvidos na regulação do apetite e metabolismo, como a insulina e o cortisol. Estudos demonstram que a privação de sono pode resultar em resistência à insulina e aumento da glicose sanguínea.

Aumento do apetite e ganho de peso

A desregulação do ritmo circadiano também está associada a alterações no apetite. A falta de sono pode levar a um aumento na produção de grelina, o hormônio que estimula a fome, e a uma diminuição na leptina, o hormônio que sinaliza saciedade. Isso pode resultar em aumento da ingestão de alimentos e ganho de peso, ambos fatores de risco para o diabetes.

Impacto na saúde cardiovascular

O ritmo circadiano influencia a pressão arterial e a frequência cardíaca, e a falta de sono pode exacerbar esses efeitos. A pressão arterial elevada e a função cardiovascular prejudicada estão frequentemente associadas a um maior risco de diabetes e complicações relacionadas.

Função imunológica

A privação de sono também afeta a função imunológica, aumentando a inflamação e prejudicando a capacidade do corpo de lidar com infecções. A inflamação crônica é um fator de risco conhecido para o diabetes tipo 2.

10 dicas para ter uma boa noite de sono

Autor

Deixe um comentário