Diabetes e rins: complicações renais e seus impactos

Entre as complicações mais graves do diabetes estão as doenças renais. Com o tempo, os níveis elevados de glicose no sangue podem afetar diretamente a função renal. Por isso, a relação entre diabetes e rins deve ser monitorada frequentemente junto à equipe médica para que não evolua para uma nefropatia diabética.

Os rins têm a função de filtragem do sangue, removendo toxinas e excesso de líquidos do corpo. No entanto, o diabetes pode prejudicar esse processo. Os níveis elevados de glicose no sangue, característicos do diabetes, danificam os vasos sanguíneos dos órgãos ao longo do tempo. Esse dano progressivo prejudica a sua capacidade de filtrar, ocasionando uma sobrecarga renal.

A nefropatia diabética é a principal complicação renal associada ao diabetes. Cerca de 20% a 40% das pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 desenvolvem algum grau da condição ao longo da vida. O manejo inadequado da glicemia e da pressão arterial são os principais fatores de risco para o seu surgimento.  Além disso, o histórico familiar e a presença de outras complicações diabéticas aumentam as chances de desenvolver problemas renais.

Como cuidar dos rins das pessoas com diabetes?

A médica nefrologista Andrea Bauer, no podcast da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), alerta que para detectar a insuficiência renal, frequentemente decorrente de condições progressivas, são necessárias estratégias de rastreamento e intervenção precoce. “A dosagem da creatinina surge como uma ferramenta valiosa para avaliar a função dos rins e identificar precocemente possíveis complicações”, explica.

De acordo com a nefrologista, pessoas com maior risco de desenvolver doença renal devem realizar exames de dosagem de creatinina pelo menos uma vez por ano. Isso inclui pacientes com diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, obesidade, histórico familiar de doença renal e idosos. 

Conforme Andrea, através do rastreamento e diagnóstico precoce da doença renal, pode-se iniciar tratamentos tanto medicamentosos quanto não medicamentosos. Além disso, indica um plano alimentar com baixo teor de sódio, a prática regular de exercícios físicos (recomendados 150 minutos por semana), cessação do tabagismo e ainda evitar o uso de anti-inflamatórios. “Um bom controle da glicemia e da pressão arterial são medidas fundamentais”, acrescenta.

Qual o primeiro sinal do aparecimento da nefropatia diabética?

Quando a relação entre diabetes e rins apresenta problemas há sinais. Um dos primeiros sintomas da nefropatia diabética geralmente é a microalbuminúria, uma condição em que pequenas quantidades de albumina (uma proteína encontrada no sangue) são detectadas na urina.

Em um rim saudável, a albumina não passa para a urina, mas quando os rins começam a ser afetados, pequenas quantidades desta proteína começam a aparecer. Isso pode ser detectado em exames de rotina, mesmo antes de sintomas mais evidentes se manifestarem.

Além da microalbuminúria, pode começar a se perceber um aumento na pressão arterial, que também é um dos primeiros indicativos de complicações renais. O tratamento precoce pode ajudar a retardar ou até mesmo prevenir a progressão para estágios mais avançados de nefropatia, o que reforça a importância de exames de monitoramento frequentes, como falado anteriormente.

Quais são os sintomas da nefropatia diabética?

Nos estágios iniciais da nefropatia diabética, os sintomas podem ser silenciosos, o que torna o diagnóstico precoce desafiador. No entanto, à medida que a doença progride, os sintomas começam a aparecer de forma mais clara. Alguns dos sintomas comuns incluem:

  1. Inchaço (edema): O acúmulo de líquidos nas pernas, tornozelos e pés é um sinal de que os rins não estão funcionando adequadamente.
  2. Fadiga extrema: A diminuição da função renal pode causar um acúmulo de toxinas no corpo, resultando em cansaço.
  3. Dificuldade para concentrar-se: O acúmulo de toxinas no sangue pode afetar a clareza mental.
  4. Aumento da pressão arterial: A hipertensão é tanto um sintoma quanto um fator de risco para a progressão da doença renal.
  5. Mudanças na frequência urinária: Pode haver aumento ou diminuição na produção de urina.
  6. Náuseas e vômitos: O acúmulo de toxinas no corpo pode causar desconforto gastrointestinal.

O que acontece com a glicose no rim?

Os rins, em condições normais, filtram a glicose do sangue e a reabsorvem para evitar que seja perdida pela urina. No entanto, em pessoas com diabetes, os seus níveis elevados sobrecarregam os mecanismos de reabsorção, resultando na presença de glicose na urina, um fenômeno chamado glicosúria.

Com o tempo, essa sobrecarga de glicose nos rins leva a um estresse adicional nas estruturas renais, particularmente nos glomérulos – os pequenos filtros responsáveis pela filtração do sangue. Esse processo causa lesões que comprometem a capacidade dos órgãos de desempenhar suas funções normais, resultando na progressão da nefropatia diabética.

Além disso, pode provocar inflamação nos tecidos renais, aumentando ainda mais o risco de lesões graves. O manejo adequado dos níveis de glicose ajuda a evitar a deterioração da função renal e o surgimento de complicações.

Complicações avançadas: doenças renais crônicas e diálise

Nos estágios mais avançados da nefropatia diabética, quando os rins perdem a maior parte da sua função, a condição evolui para doença renal crônica (DRC). Essa complicação afeta gravemente a capacidade do corpo de filtrar resíduos e manter o equilíbrio de líquidos e eletrólitos.

A doença renal crônica muitas vezes progride de forma lenta e gradual, mas se não for controlada, pode levar à insuficiência renal terminal, estágio no qual os rins perdem completamente a capacidade de realizar suas funções. Nessa fase, as pessoas precisam de tratamentos como a diálise para substituir a função renal ou, em casos mais graves, um transplante.

A diálise é um tratamento que filtra artificialmente o sangue, removendo toxinas e excesso de líquidos. Existem dois tipos principais de diálise:

  1. Hemodiálise: O sangue é filtrado através de uma máquina especial.
  2. Diálise peritoneal: O líquido é inserido no abdômen para absorver os resíduos, que são posteriormente eliminados.

Embora a diálise seja eficaz para manter a vida, ela impõe uma série de limitações e desafios ao paciente, incluindo mudanças na dieta, restrições de líquidos e visitas regulares a centros de tratamento.

Avanços no tratamento da nefropatia diabética

Nos últimos anos, os avanços na medicina trouxeram novas opções de tratamento para pessoas que precisam acompanhar de perto os impactos entre diabetes e rins. Um dos principais progressos foi o desenvolvimento de medicamentos que protegem os órgãos, além de atuarem no manejo da glicose. Entre eles, estão os inibidores da SGLT2 (gliflozinas), que ajudam a reduzir a sua reabsorção nos rins, diminuindo a sua carga no sangue e, ao mesmo tempo, proporcionando proteção renal. 

Outro grupo de medicamentos eficazes no tratamento da nefropatia diabética são os inibidores da ECA e os bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRAs). Eles são amplamente utilizados para controlar a pressão arterial, o que é fundamental para evitar danos adicionais aos rins. Além disso, esses medicamentos demonstram um efeito protetor sobre os vasos sanguíneos renais, reduzindo a perda de proteínas na urina.

A importância do cuidado multidisciplinar

O cuidado com pessoas que apresentam nefropatia diabética exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo endocrinologistas, nefrologistas, nutricionistas e educadores em diabetes. Essa equipe trabalha em conjunto para garantir que o indivíduo receba o suporte necessário em todas as frentes da doença.

A nutricionista é importante para desenvolver planos alimentares com restrição de sódio e proteínas que ajudam a reduzir o esforço dos rins. Já a educação em diabetes faz com que as pessoas compreendam melhor sua condição e, dessa forma, se tornam mais propensas a seguir as orientações médicas, realizar exames de rotina e fazer ajustes em seu estilo de vida. 

O diagnóstico precoce da nefropatia diabética é fundamental para melhorar o prognóstico dos pacientes. Exames de rotina, como a **taxa de filtração glomerular** (TFG) e a dosagem de albumina na urina, são essenciais para identificar a doença em seus estágios iniciais. Quando se detecta a nefropatia precocemente, aumenta-se a chance de prevenir a progressão da doença com mudanças no estilo de vida e tratamento médico adequado.

Prevenção e monitoramento: diabetes e rins

Para evitar que a relação diabetes e rins se deteriore e se transforme em nefropatia diabética ou outras complicações crônicas, a pessoa precisa monitorar frequentemente os níveis de glicose no sangue e da pressão arterial. Além disso, adotar um estilo de vida saudável, com um plano alimentar saudável e personalizado, com a prática regular de atividades físicas.

Realizar exames regulares, como a medição  da taxa de filtração glomerular (TFG) e a dosagem de albumina na urina , é uma forma de detectar precocemente qualquer alteração nos rins. Isso possibilita o início do tratamento, retardando ou até evitando o desenvolvimento de complicações graves.

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