Obesidade infantil: estratégias de prevenção e cuidado

A obesidade infantil é um dos desafios mais urgentes da saúde pública global. Dados do Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024 reforçam a gravidade da situação: atualmente, 1 em cada 3 crianças no Brasil tem sobrepeso, e, até 2035, metade das crianças brasileiras de 5 a 19 anos poderá apresentar índice de massa corporal (IMC) elevado.

A obesidade infantil não é apenas um problema individual; é reflexo de fatores sociais, econômicos e ambientais que demandam uma resposta integrada de especialistas, governos e famílias.

Com o aumento da obesidade, crescem também os impactos na saúde e na economia global. De acordo com o Atlas, mais de 750 milhões de crianças no mundo deverão viver com sobrepeso ou obesidade até 2035.

No Brasil, o cenário preocupa ainda mais devido à projeção de aumento anual de 1,8% no número de crianças com IMC alto.

Esses dados apontam para a necessidade urgente de estratégias de prevenção e cuidado que considerem não apenas mudanças no estilo de vida, mas também políticas públicas que abordem os determinantes sociais da saúde.

Quando uma criança é considerada obesa?

A obesidade infantil é diagnosticada com base em parâmetros específicos, sendo o Índice de Massa Corporal (IMC) o principal indicador utilizado.

O IMC é calculado dividindo o peso (em quilogramas) pela altura (em metros) ao quadrado, e, em crianças, ele é comparado às curvas de crescimento por idade e sexo, conforme as tabelas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma criança é considerada obesa quando o seu IMC está acima do percentil 97 para a sua faixa etária, de acordo com essas curvas de referência.

Valores entre os percentis 85 e 97 indicam sobrepeso. Além do IMC, médicos podem avaliar outros fatores, como:

  • Histórico familiar: Se os pais ou familiares próximos apresentarem obesidade ou doenças associadas, a probabilidade de a criança ser considerada obesa aumenta.
  • Exames clínicos e laboratoriais: Indicadores como pressão arterial elevada, níveis de glicose no sangue, perfil lipídico e a presença de gordura visceral ajudam a determinar a gravidade da condição.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o diagnóstico precoce ajuda a evitar complicações futuras. É fundamental que profissionais de saúde acompanhem regularmente o crescimento e desenvolvimento das crianças, orientando pais e cuidadores sobre a necessidade de ajustes na rotina alimentar e de exercícios.

Compreendendo as causas da obesidade infantil

O aumento da obesidade infantil está diretamente ligado a mudanças no ambiente alimentar, no estilo de vida e no acesso a serviços de saúde.

No Brasil, as crianças enfrentam desafios específicos, como a exposição constante a alimentos ultraprocessados e a falta de espaços seguros para atividades físicas.

Dados do Atlas indicam que a pressão arterial elevada, hiperglicemia e colesterol HDL baixo são algumas das consequências mais comuns de um IMC elevado em crianças e jovens.

Além disso, o impacto da pandemia de COVID-19 também contribuiu para o aumento dos índices de obesidade infantil, exacerbando desigualdades existentes e dificultando o acesso a opções saudáveis de alimentação e exercício.

O Atlas destaca que 88% das crianças com excesso de peso viverão em países de baixa e média renda até 2035, refletindo a necessidade de soluções adaptadas às condições locais.

Os fatores comportamentais também desempenham um papel importante. O sedentarismo, impulsionado pelo uso excessivo de telas e pela redução do tempo para brincadeiras ao ar livre, está diretamente associado ao ganho de peso.

Para muitas famílias, a rotina acelerada e a falta de educação nutricional tornam difícil estabelecer hábitos saudáveis desde cedo.

Os impactos da obesidade infantil na saúde e na economia global

A obesidade infantil não afeta apenas a saúde individual; seus impactos reverberam na economia e nos sistemas de saúde.

No Brasil, as mortes por condições crônicas não transmissíveis (CCNTs) atribuídas ao IMC elevado incluem doenças como diabetes, acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana e neoplasias.

Segundo o Atlas, essas condições levaram a 5,799,277 anos de vida perdidos (DALYs) no país.

O custo econômico da obesidade também é alarmante. Estima-se que o aumento da prevalência de obesidade contribua para a sobrecarga dos sistemas de saúde, reduzindo a produtividade e aumentando os gastos com tratamentos para condições relacionadas.

Globalmente, 79% dos adultos com excesso de peso e obesidade viverão em países de baixa e média renda até 2035, onde os sistemas de saúde já enfrentam desafios significativos.

Além dos custos econômicos, os impactos psicológicos são profundos. Crianças obesas frequentemente enfrentam estigmatização social e bullying, o que pode levar a transtornos emocionais como ansiedade e depressão.

Essas condições afetam o desempenho escolar e as relações sociais, perpetuando ciclos de exclusão e dificuldades na vida adulta.

Prevenção da obesidade infantil

A prevenção da obesidade infantil exige esforços coordenados que envolvam famílias, escolas, profissionais de saúde e governos.

No Brasil, o compromisso com o Plano de Aceleração da OMS é um passo importante para implementar recomendações eficazes de prevenção e manejo da obesidade ao longo da vida.

  1. Educação alimentar e nutricional:
  • Promover programas educacionais que ensinem crianças e famílias sobre alimentação equilibrada é fundamental. O consumo de frutas, vegetais e alimentos integrais deve ser incentivado, enquanto os ultraprocessados devem ser limitados.
  • As escolas desempenham um papel central. A inclusão de cardápios balanceados e a proibição de vendas de alimentos não saudáveis no ambiente escolar são estratégias eficazes para reduzir o consumo calórico excessivo.
  1. Incentivo à atividade física:
  • Crianças devem ser incentivadas a realizar ao menos 60 minutos de atividade física diária, como recomenda a OMS. Brincadeiras ao ar livre, esportes coletivos e caminhadas podem ser incorporados de forma lúdica à rotina.
  • Investir em infraestrutura urbana, como ciclovias e parques, ajudaria na criação de espaços seguros para a prática de exercícios.
  1. Regulação de marketing e acesso a alimentos saudáveis:
  • O Brasil pode se espelhar em iniciativas como as do Chile, que implementou rótulos claros e restrições à publicidade de alimentos não saudáveis voltada para crianças.
  • Programas que incentivem a agricultura local e o acesso a mercados comunitários ajudam a reduzir a dependência de alimentos ultraprocessados.

Tratamento e cuidado da obesidade infantil

Quando a obesidade já está instalada, o tratamento deve ser personalizado e centrado na criança. Profissionais de saúde devem adotar uma abordagem empática, evitando dietas restritivas ou culpabilização da família.

Acompanhamento nutricional:
Nutricionistas podem criar planos alimentares adaptados às preferências e necessidades da criança, promovendo substituições saudáveis que sejam práticas e acessíveis.

Pequenos ajustes, como incluir vegetais nas refeições principais e limitar o consumo de bebidas açucaradas, podem trazer resultados significativos ao longo do tempo.

Apoio psicológico:
O impacto emocional da obesidade infantil não pode ser ignorado. Psicólogos ajudam no fortalecimento da autoestima e na identificação de gatilhos emocionais que levam ao ganho de peso.

Estratégias como terapia cognitivo-comportamental podem ser eficazes para ajudar as crianças a desenvolver uma relação mais saudável com a comida.

Incorporação de exercícios na rotina:
Educadores físicos podem ajudar a criar programas de exercícios adaptados à idade e ao nível de condicionamento da criança.

Atividades recreativas e esportes coletivos são especialmente úteis para integrar o movimento ao cotidiano, promovendo tanto a saúde física quanto a interação social.

Recomendações da SBP e do Ministério da Saúde

Tanto a SBP quanto o Ministério da Saúde destacam a importância de medidas preventivas para lidar com a obesidade infantil, reforçando que a atuação deve começar desde os primeiros anos de vida.

A SBP, em sua cartilha sobre obesidade, enfatiza que a amamentação exclusiva até os seis meses de vida é um dos fatores mais importantes na prevenção do sobrepeso e da obesidade.

Segundo a entidade, a introdução alimentar a partir do sexto mês deve ser feita com alimentos naturais, evitando o uso de açúcar e ultraprocessados.

Além disso, os pediatras são orientados a monitorar continuamente o crescimento e o IMC das crianças para identificar precocemente possíveis desvios.

O Ministério da Saúde também reforça a importância de uma abordagem integrada, incluindo ações escolares e comunitárias.

Programas como o Saúde na Escola têm como objetivo promover práticas de alimentação saudável, incentivar a atividade física e capacitar professores para identificar sinais de obesidade entre os estudantes.

De acordo com o Ministério, o acesso à informação é essencial para transformar hábitos alimentares e reduzir o impacto da obesidade em longo prazo.

Outra diretriz importante da SBP é a limitação do tempo de tela. Crianças menores de dois anos devem evitar o uso de dispositivos eletrônicos, enquanto aquelas entre dois e cinco anos devem limitar o tempo de tela a uma hora por dia. Essa recomendação está alinhada à preocupação com o aumento do sedentarismo, um dos fatores agravantes da obesidade infantil.

Papel da educação e da política pública

As recomendações destacam o papel dos pediatras e das políticas públicas na prevenção e manejo da obesidade. Importante incorporar essas orientações no atendimento e na formulação de estratégias.

Dessa forma, os profissionais de saúde podem contribuir para um impacto positivo e duradouro na saúde infantil.

Os dados do Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024 são um alerta para a gravidade da obesidade infantil no Brasil e no mundo.

Com metade das crianças brasileiras projetadas para apresentar IMC elevado até 2035, são necessárias ações efetivas. Profissionais de saúde podem auxiliar nesse processo, oferecendo orientação baseada em evidências e promovendo ações colaborativas com famílias e comunidades.

Além disso, políticas públicas robustas, como o fortalecimento de programas escolares e a regulamentação de marketing, são essenciais para enfrentar os determinantes sociais da obesidade. 

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