Síndrome dos ovários policísticos (SOP): entenda o que é

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma das alterações hormonais mais comuns entre mulheres em idade reprodutiva. Marcada por desequilíbrios hormonais e metabólicos, a SOP pode provocar irregularidades menstruais, dificuldade para engravidar, alterações na pele e no peso, entre outros impactos.

De causa multifatorial, a síndrome exige diagnóstico clínico cuidadoso e abordagem individualizada. O tratamento varia conforme o tipo e os sintomas de cada paciente, com foco no manejo hormonal, reprodutivo e metabólico. Segundo diretrizes do Ministério da Saúde, cerca de 6% a 20% das mulheres podem apresentar sinais da síndrome, o que reforça a importância de ampliar a informação sobre o tema.

🧬 O que é a síndrome dos ovários policísticos (SOP)?

A SOP é um distúrbio hormonal comum que afeta de 6% a 20% das mulheres em idade reprodutiva, segundo estimativas citadas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde. Ela é caracterizada por alterações na ovulação, níveis elevados de andrógenos (hormônios masculinos) e, em alguns casos, por ovários com múltiplos folículos visíveis na ultrassonografia.

A SOP é considerada uma síndrome multifatorial. Isso significa que não há uma única causa, mas sim a combinação de fatores genéticos, ambientais e metabólicos. Um dos mecanismos frequentemente associados é a resistência à insulina, que contribui para o desequilíbrio hormonal.

A condição costuma se manifestar na adolescência ou início da vida adulta, com sinais que envolvem o ciclo menstrual, pele, cabelos, peso corporal e, em muitos casos, dificuldades para engravidar. Embora o nome da síndrome mencione os ovários, a SOP é, sobretudo, uma disfunção hormonal e metabólica sistêmica.

O diagnóstico é clínico e laboratorial, baseado em critérios consensuais. O mais utilizado é o de Rotterdam (2003), que requer a presença de pelo menos dois dos três critérios:

  • oligo ou anovulação;
  • sinais clínicos ou laboratoriais de hiperandrogenismo;
  • presença de ovários com padrão policístico na ultrassonografia.

Importante: o diagnóstico só deve ser confirmado após a exclusão de outras condições que causam sintomas semelhantes, como distúrbios da tireoide, hiperplasia adrenal congênita e tumores secretores de andrógenos.

⚠️ Quais são os sintomas da SOP?

A SOP pode se manifestar de formas diferentes em cada paciente. Algumas mulheres apresentam apenas sinais leves, enquanto outras enfrentam um conjunto de sintomas que afetam a saúde reprodutiva, metabólica e emocional.

Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Ministério da Saúde, os principais sintomas da SOP incluem:

  • Ciclos menstruais irregulares ou ausentes
  • Dificuldade para engravidar, associada à ausência de ovulação
  • Hirsutismo (crescimento excessivo de pelos em áreas como rosto, tórax, abdômen e costas)
  • Acne persistente e pele oleosa
  • Queda de cabelo com padrão androgenético (afinamento na região frontal e topo da cabeça)
  • Ganho de peso ou dificuldade para perder peso
  • Manchas escuras na pele (acantose nigricans), geralmente no pescoço, axilas e dobras

Além desses sinais visíveis, muitas pacientes com SOP também apresentam resistência à insulina, aumento do colesterol ruim (LDL), redução do HDL (colesterol “bom”) e níveis alterados de glicose no sangue — fatores que elevam o risco para diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Conforme destacado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é importante observar que nem todas as mulheres com SOP terão todos os sintomas. O quadro clínico varia de acordo com o fenótipo, histórico familiar, hábitos de vida e resposta hormonal individual.

🩺 O que a SOP pode causar no organismo?

A SOP não se limita aos sintomas visíveis. Ela pode desencadear complicações sistêmicas que afetam a saúde metabólica, cardiovascular, reprodutiva e até psicológica da paciente.

De acordo com o PCDT do Ministério da Saúde, a síndrome está associada a uma série de condições clínicas e metabólicas, como:

  • Infertilidade anovulatória: a ausência ou irregularidade da ovulação dificulta a concepção.
  • Resistência à insulina e risco aumentado de diabetes tipo 2: especialmente em pacientes com sobrepeso ou obesidade.
  • Síndrome metabólica: combinação de hipertensão, dislipidemia (colesterol alto), hiperglicemia e obesidade abdominal.
  • Doença cardiovascular precoce: devido às alterações inflamatórias e metabólicas.
  • Apneia obstrutiva do sono: em casos mais severos, relacionada ao excesso de peso e alterações hormonais.
  • Ansiedade, depressão e distúrbios da imagem corporal: impactos psicossociais são frequentes e devem ser acompanhados.

Além disso, estudos como o da BJIHSc (2022) destacam o aumento do risco para hiperplasia endometrial e câncer de endométrio em mulheres com ciclos anovulatórios prolongados, especialmente quando não há tratamento para induzir sangramento uterino regular.

Por isso, o manejo da SOP vai muito além dos sintomas visíveis. Ele exige uma abordagem abrangente, com foco não apenas no alívio das queixas, mas na prevenção de complicações a longo prazo.

🧬 Quais são os 4 tipos de SOP?

A SOP pode se manifestar de diferentes formas clínicas. Por isso, desde 2003, os critérios de Rotterdam estabeleceram quatro tipos — chamados de fenótipos clínicos — que ajudam a classificar as pacientes com base nas combinações de sintomas e exames.

Essa diferenciação é essencial para orientar o tratamento, prever o risco de complicações metabólicas e entender o impacto reprodutivo da síndrome. Abaixo, conheça cada um deles:

🔹 Fenótipo A – Clássico completo

Este é o tipo mais comum e com maior risco metabólico. A paciente apresenta:

  • Anovulação (ciclos irregulares ou ausência de ovulação)
  • Hiperandrogenismo (clínico, como acne ou hirsutismo; e/ou laboratorial)
  • Ovários com aspecto policístico na ultrassonografia

Segundo o PCDT do Ministério da Saúde, este fenótipo está mais associado à resistência à insulina, obesidade central e síndrome metabólica, sendo o mais frequentemente diagnosticado nos serviços de saúde.

🔹 Fenótipo B – Clássico sem morfologia policística

Aqui, a paciente apresenta dois critérios:

  • Anovulação
  • Hiperandrogenismo

No entanto, os ovários têm aspecto normal na ultrassonografia. Ou seja, mesmo sem a imagem típica, a paciente tem um quadro compatível com SOP.

Esse tipo também tem risco metabólico elevado, embora ligeiramente menor que o fenótipo A. Muitas vezes é subdiagnosticado quando há ausência de ultrassom sugestivo.

🔹 Fenótipo C – Ovulatório

Neste grupo, a mulher mantém ovulação regular, mas apresenta:

  • Hiperandrogenismo
  • Ovários policísticos à ultrassonografia

Como o ciclo menstrual é aparentemente normal, o diagnóstico pode ser tardio. Mesmo assim, esse fenótipo pode trazer impactos estéticos e emocionais importantes, como acne e hirsutismo, além de disfunções metabólicas em menor grau.

🔹 Fenótipo D – Leve ou não hiperandrogênico

É o fenótipo com menor risco metabólico e costuma ter quadro mais leve. A paciente apresenta:

  • Anovulação
  • Ovários policísticos

Mas sem sinais de hiperandrogenismo, nem clínicos nem laboratoriais.

Apesar do impacto menor sobre a saúde metabólica, pode causar infertilidade e requer acompanhamento para evitar complicações endometriais associadas à ausência de ovulação.

📌 Importante: todas as variações requerem avaliação clínica detalhada e abordagem individualizada. Mesmo os fenótipos considerados leves podem impactar a qualidade de vida e fertilidade.

🩸 Como é a menstruação de quem tem SOP?

Um dos sinais mais frequentes da SOP é a irregularidade menstrual. Isso ocorre porque a síndrome costuma causar anovulação crônica — ou seja, o óvulo não é liberado regularmente pelos ovários.

De acordo com o PCDT do Ministério da Saúde, as mulheres com SOP podem apresentar:

  • Oligomenorreia: intervalos longos entre as menstruações (mais de 35 dias)
  • Amenorreia: ausência completa de menstruação por três meses ou mais
  • Fluxo menstrual intenso ou prolongado após longos períodos sem sangramento

Essas alterações são consequência da falta de ovulação e do estímulo contínuo do estrogênio sobre o endométrio, sem contraposição da progesterona. Com isso, o revestimento interno do útero cresce de forma desorganizada, o que pode levar a sangramentos irregulares e, com o tempo, aumentar o risco de hiperplasia endometrial.

A Febrasgo reforça que o padrão menstrual varia conforme o fenótipo da síndrome. Nos tipos A, B e D, os ciclos são mais frequentemente irregulares. Já no tipo C (ovulatório), a menstruação tende a ocorrer normalmente — o que pode atrasar o diagnóstico.

É importante que a irregularidade dos ciclos seja investigada, principalmente em adolescentes e mulheres jovens, pois pode ser o primeiro sinal clínico da síndrome.

🧪 Como é feito o diagnóstico da SOP?

O diagnóstico da SOP é clínico e laboratorial, baseado na exclusão de outras doenças e na presença de critérios estabelecidos internacionalmente. O mais adotado é o critério de Rotterdam (2003), recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Febrasgo.

Para confirmar a síndrome, a paciente deve apresentar pelo menos dois dos três critérios abaixo:

  1. Oligo ou anovulação (menstruação irregular ou ausente)
  2. Hiperandrogenismo clínico (acne, hirsutismo, alopecia) ou laboratorial (testosterona elevada)
  3. Ovários com morfologia policística à ultrassonografia (mais de 12 folículos entre 2 e 9 mm ou volume ovariano acima de 10 cm³)

Além disso, é obrigatório excluir outras causas que podem gerar sintomas semelhantes, como:

  • Hiperplasia adrenal congênita
  • Síndrome de Cushing
  • Tumores secretores de andrógenos
  • Disfunções da tireoide e hiperprolactinemia

O exame físico e o histórico menstrual detalhado são etapas fundamentais. Os exames complementares incluem:

  • Dosagem hormonal (testosterona total e livre, LH, FSH, TSH, prolactina, DHEA-S)
  • Ultrassonografia transvaginal ou pélvica
  • Exames metabólicos, como glicemia de jejum, HOMA-IR, perfil lipídico e avaliação da pressão arterial

A confirmação do diagnóstico é especialmente delicada em adolescentes, pois a imaturidade do eixo hormonal pode simular sinais da SOP. Nestes casos, o acompanhamento ao longo do tempo é essencial para um diagnóstico definitivo.

💊 Quais os tratamentos para a síndrome?

O tratamento da SOP deve ser individualizado, considerando os sintomas predominantes, os objetivos da paciente (como melhora estética, controle do ciclo ou desejo de gravidez) e os riscos metabólicos associados.

De acordo com o PCDT do Ministério da Saúde, o manejo pode envolver mudanças no estilo de vida, uso de medicamentos e, em casos específicos, tratamentos reprodutivos ou procedimentos cirúrgicos.

🥦 Mudança no estilo de vida

É a primeira recomendação para a maioria das pacientes, principalmente aquelas com sobrepeso ou obesidade.

  • Perda de 5% a 10% do peso corporal já pode melhorar a ovulação e reduzir os níveis de andrógenos.
  • A prática regular de exercícios físicos auxilia na sensibilidade à insulina e na redução da gordura visceral.
  • Alimentação balanceada, com baixo índice glicêmico, pode contribuir para o controle hormonal e glicêmico.

💊 Tratamento farmacológico

As principais opções incluem:

  • Anticoncepcionais orais combinados: usados para regular os ciclos menstruais, reduzir o hirsutismo e a acne, além de proteger o endométrio.
  • Metformina: melhora a resistência à insulina e pode ajudar a regular os ciclos, mesmo sem anticoncepcionais.
  • Espironolactona ou finasterida: atuam na redução do hirsutismo e da oleosidade da pele.
  • Indutores de ovulação (como letrozol ou citrato de clomifeno): indicados para pacientes com desejo reprodutivo.

Segundo o artigo da BJIHSc (2022), há também estudos sobre o uso de inovadores antiandrogênicos, suplementos nutricionais e fitoterápicos, mas ainda sem consenso clínico para uso rotineiro.

🧬 Tratamentos para infertilidade

Nos casos em que há desejo de engravidar, a abordagem pode incluir:

  • Indução da ovulação com medicamentos (preferencialmente letrozol, segundo evidências recentes)
  • Reprodução assistida, como fertilização in vitro, quando há falha nas abordagens convencionais
  • Perfuração ovariana laparoscópica: opção cirúrgica pontual para indução ovulatória em casos refratários

♻️ SOP tem cura? E como conviver com o diagnóstico?

A SOP não tem cura, mas pode ser controlada com sucesso ao longo da vida. O tratamento contínuo permite reduzir os sintomas, prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida da paciente.

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome deve ser vista como uma condição crônica, que exige acompanhamento multidisciplinar — com ginecologista, endocrinologista, nutricionista e, quando necessário, apoio psicológico.

A convivência com a síndrome envolve algumas estratégias importantes:

  • Monitoramento regular do ciclo menstrual e uso de medicamentos que evitem hiperplasia endometrial
  • Controle do peso corporal e da alimentação, especialmente em casos com resistência à insulina
  • Tratamento dos sintomas dermatológicos e estéticos, que podem afetar a autoestima
  • Planejamento reprodutivo adequado ao desejo de gravidez, com orientação médica
  • Atenção à saúde emocional, já que ansiedade e depressão são mais prevalentes em mulheres com SOP

De acordo com a Febrasgo, a adesão ao tratamento é mais efetiva quando a paciente compreende a natureza da síndrome e participa ativamente do plano terapêutico. A educação em saúde é um pilar fundamental nesse processo.

Com acompanhamento correto e escolhas sustentáveis, é possível ter uma vida plena mesmo com o diagnóstico de SOP.

🤰 SOP e fertilidade: é possível engravidar?

Sim, é possível engravidar mesmo tendo SOP. Embora a síndrome esteja associada a anovulação crônica, muitas mulheres conseguem conceber com tratamento adequado e, em alguns casos, até de forma espontânea.

De acordo com o PCDT do Ministério da Saúde, a infertilidade é uma das principais queixas em pacientes com SOP. Isso ocorre principalmente porque a ovulação não acontece de forma regular — dificultando a identificação do período fértil e a fecundação.

A boa notícia é que a maioria das pacientes responde bem ao tratamento para indução da ovulação. As opções mais indicadas incluem:

  • Letrozol: medicamento de primeira linha para indução ovulatória, com taxas de sucesso superiores às do citrato de clomifeno, segundo estudos recentes.
  • Citrato de clomifeno: alternativa eficaz, especialmente em pacientes sem resistência severa à insulina.
  • Metformina: pode ser usada em combinação para melhorar a resposta ovulatória, principalmente em mulheres com sobrepeso.
  • Reprodução assistida: indicada quando há outras causas associadas à infertilidade ou falha dos tratamentos convencionais.
  • Perfuração ovariana laparoscópica: opção cirúrgica pontual para induzir a ovulação em casos resistentes.

A Febrasgo reforça que o planejamento reprodutivo em mulheres com SOP deve ser individualizado, respeitando o tempo de diagnóstico, a idade da paciente e a presença de comorbidades.

Com acompanhamento especializado, é possível não apenas engravidar, mas ter uma gestação segura e saudável, com controle adequado dos riscos metabólicos e monitoramento frequente.

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