Diabetes tipo 1 em adultos: sinais e diagnóstico tardio

O diabetes tipo 1 em adultos é diagnosticado de forma tardia porque seus sintomas podem ser confundidos com outros problemas de saúde. Embora essa forma da condição seja mais comum em crianças e adolescentes, adultos também podem receber o diagnóstico. E, muitas vezes, de maneira inesperada. 

Compreender os sinais e os desafios do diagnóstico tardio é essencial para garantir um tratamento adequado e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O que é o diabetes tipo 1?

O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca erroneamente as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Sem insulina suficiente, o corpo não consegue regular os níveis de glicose no sangue. 

Dessa forma, leva a um acúmulo perigoso de açúcar na corrente sanguínea. Esse tipo de diabetes requer o uso de insulina exógena para gerenciar os níveis de glicemia.

Embora seja diagnosticado principalmente em crianças e adolescentes, casos de diabetes tipo 1 em adultos estão se tornando mais comuns. Muitas vezes, esses casos são inicialmente confundidos com o diabetes tipo 2, retardando o tratamento adequado. 

O entendimento da patogênese desta condição ainda está sendo aprofundado, e estudos recentes indicam que alguns adultos podem desenvolver uma forma menos agressiva e progressiva da doença, o que complica ainda mais o diagnóstico correto.

Sintomas do diabetes tipo 1 em adultos

Os sintomas do diabetes tipo 1 em adultos podem surgir de forma repentina ou gradual. Alguns dos sinais mais comuns incluem:

  • Sede excessiva (polidipsia): O aumento da sede ocorre porque os rins tentam eliminar o excesso de glicose do sangue pela urina, levando à desidratação.
  • Vontade frequente de urinar (poliúria): Devido à eliminação da glicose, a produção de urina aumenta, causando a necessidade frequente de urinar, inclusive durante a noite.
  • Fome intensa (polifagia): Como as células não conseguem absorver glicose de forma eficiente, o corpo sente fome constante, mesmo após alimentação adequada.
  • Perda de peso inexplicada: A perda de peso ocorre porque, sem glicose suficiente para obter energia, o corpo passa a utilizar gordura e músculo como fonte de combustível.
  • Fadiga extrema: Ocorre devido à falta de energia disponível para as células do corpo.
  • Visão embaçada: Os altos níveis de glicose podem afetar a hidratação do cristalino do olho, comprometendo a visão.
  • Infecções frequentes: Altos níveis de glicose favorecem o crescimento de microrganismos, aumentando o risco de infecções cutâneas, urinárias e gengivais.
  • Cãibras musculares: Deficiências nutricionais decorrentes da doença podem afetar os nervos e causar cãibras e dores musculares.
  • Irritabilidade e mudanças de humor: A instabilidade glicêmica pode afetar o humor e levar a episódios de irritabilidade e ansiedade.

Muitos adultos que desenvolvem diabetes tipo 1 inicialmente apresentam uma forma mais lenta da doença, chamada de diabetes autoimune latente do adulto (LADA, do inglês Latent Autoimmune Diabetes in Adults). Nesse caso, a progressão da doença é mais lenta, e a necessidade de insulina pode surgir apenas anos após o diagnóstico.

Diferenças entre LADA e diabetes tipo 2

Muitas vezes, o LADA é erroneamente diagnosticado como diabetes tipo 2 porque os sintomas iniciais são semelhantes. No entanto, algumas diferenças fundamentais podem auxiliar no diagnóstico:

  • Pacientes com LADA geralmente não apresentam obesidade, ao contrário do que ocorre frequentemente no diabetes tipo 2.
  • O tratamento com antidiabéticos orais tende a falhar rapidamente.
  • A presença de autoanticorpos contra células beta do pâncreas é um forte indicativo de LADA.
  • A progressão da deficiência na produção de insulina é mais lenta do que no diabetes tipo 1 clássico, mas mais rápida do que no diabetes tipo 2.

O reconhecimento precoce do LADA e a diferenciação entre os tipos de diabetes possibilitam um tratamento adequado e a prevenção de complicações futuras. O acompanhamento com um endocrinologista e a realização de exames específicos são decisivos para o diagnóstico e o manejo da condição.

Impacto do diagnóstico tardio na qualidade de vida

O diagnóstico tardio do diabetes tipo 1 pode levar a diversas complicações que impactam diretamente a qualidade de vida da pessoa. Sem um tratamento adequado desde o início da condição, o risco de desenvolver complicações aumenta..

A cetoacidose diabética, uma condição grave causada pelo acúmulo de cetonas no sangue, pode ocorrer nos casos em que o diabetes tipo 1 não é detectado a tempo. Além disso, a falta de manejo glicêmico pode levar a neuropatias, retinopatias e doenças cardiovasculares. 

A instabilidade glicêmica pode afetar também o bem-estar emocional, aumentando a incidência de ansiedade e depressão em pacientes com diagnóstico tardio Por isso, o reconhecimento precoce dos sinais da doença e a realização de exames específicos são essenciais para minimizar os impactos negativos e garantir um manejo mais eficiente da condição.

Principais complicações do diabetes tipo 1 em adultos

O diabetes tipo 1 não tratado adequadamente pode levar a diversas complicações ao longo do tempo. Algumas das principais incluem:

  • Cetoacidose diabética: Condição grave caracterizada pelo acúmulo de cetonas no sangue, podendo levar a coma diabético se não tratada.
  • Neuropatia diabética: Danos aos nervos que podem causar dor, formigamento e perda de sensibilidade, especialmente nos pés.
  • Retinopatia diabética: Problema ocular que pode resultar em perda de visão progressiva devido ao dano nos vasos sanguíneos da retina.
  • Doenças cardiovasculares: Maior risco de hipertensão, infartos e AVCs devido à hiperglicemia crônica.
  • Doença renal diabética: A glicose elevada pode afetar os rins, levando a insuficiência renal em estágios avançados.

Diabetes tipo 1 em adultos: estudo revela alta prevalência

Um estudo publicado no Annals of Internal Medicine revelou que aproximadamente 62% dos casos de diabetes tipo 1 são diagnosticados após os 20 anos de idade. Esse dado desafia a ideia de que o diabetes tipo 1 é exclusivamente uma condição da infância e adolescência e reforça a necessidade de um diagnóstico preciso em adultos.

Os pesquisadores destacam que muitos adultos inicialmente recebem um diagnóstico incorreto de diabetes tipo 2, especialmente devido à sobreposição de características clínicas. O atraso no reconhecimento do diabetes tipo 1 acaba acarretando complicações, como já foi abordado. 

O estudo enfatiza ainda a importância de exames específicos, como a detecção de autoanticorpos e a dosagem de peptídeo C, para diferenciar corretamente os tipos de diabetes e garantir um tratamento adequado desde o início.

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em suas diretrizes oficiais, também reconhece esse cenário e reforça a importância de um diagnóstico correto do diabetes tipo 1 em adultos. A entidade recomenda uma abordagem baseada em insulinoterapia personalizada, monitoramento glicêmico contínuo e educação em diabetes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

Além disso, alerta que médicos devem estar atentos a pacientes sem obesidade, com rápida falha em medicamentos orais ou com histórico familiar de doenças autoimunes.

Estratégias para o manejo do diabetes tipo 1 em adultos

O manejo do diabetes tipo 1 em adultos envolve uma abordagem multidisciplinar para melhorar o manejo da glicemia  e prevenir complicações. Algumas das principais estratégias incluem:

  • Terapia com insulina: Uso diário de insulina basal e bolus para imitar a produção natural do pâncreas.
  • Monitoramento glicêmico contínuo: Dispositivos como sensores de glicose ajudam a ajustar doses de insulina e evitar hipoglicemias.
  • Plano alimentar equilibrado: Ajuste de carboidratos, proteínas e gorduras para manter a glicemia estável ao longo do dia.
  • Prática regular de exercícios: Atividades físicas ajudam na sensibilidade à insulina e na regulação dos níveis de glicose.
  • Acompanhamento médico regular: Consultas com endocrinologistas e nutricionistas são essenciais para ajustes no tratamento.
  • Educação sobre diabetes: Conhecimento sobre a doença e suas particularidades permite um melhor monitoramento e autonomia no manejo diário.

Cada paciente tem necessidades individuais, e um tratamento personalizado é fundamental para garantir qualidade de vida e reduzir riscos de complicações.

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