Dieta low carb e diabetes: como funciona e seus impactos

A dieta low carb e diabetes tem sido discutida por profissionais como uma estratégia para ajudar na gestão da condição. Na visão desses especialistas, a redução de ingestão de carboidratos influencia a diminuição do nível de glicose no sangue, o que é essencial para pessoas com diabetes. 

No entanto, a Sociedade Brasieira de Diabetes orienta cautela e acompanhamento médico para entender seus riscos e se ela é adequada. Em norma técnica recomenda:  “O fundamental é que a adequação nutricional seja feita de maneira individualizada, de acordo com as necessidades nutricionais e especificidades de cada paciente, garantindo melhor controle glicêmico, crescimento e desenvolvimento adequados em crianças e adolescentes com DM1. Isto é, sem dúvida, mais importante do que qualquer tipo de estratégia restritiva.”

Quem tem diabetes pode fazer a dieta low carb?

As pessoas com diabetes precisam ter oerientação médica e cautela ao adotar a dieta low carb. A redução de carboidratos pode até ajudar a estabilizar os níveis de glicose, já que esse macronutriente é um dos principais responsáveis pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue. 

Alguns estudos feitos indicam que a dieta low carb pode melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a necessidade de medicamentos em alguns casos. Entretanto, é importante lembrar que cada organismo responde de maneira diferente. Pessoas com diabetes tipo 1, por exemplo, precisam monitorar cuidadosamente a glicemia para evitar episódios de hipoglicemia, já que a ingestão reduzida de carboidratos pode afetar o equilíbrio dos níveis de glicose e insulina.

O que a dieta low carb pode causar?

A dieta low carb, quando bem orientada por profissional e planejada, pode trazer vários benefícios para pessoas com diabetes, incluindo:

  1. Melhora do controle glicêmico: Com menos carboidratos na dieta, há uma menor chance de picos de glicose após as refeições.
  2. Redução do peso: A perda de peso é frequentemente associada à melhora da resistência à insulina, um fator importante para o controle do diabetes tipo 2.
  3. Redução da necessidade de insulina: Para pessoas que utilizam insulina, uma dieta low carb pode significar a necessidade de doses menores, já que menos carboidratos estão sendo processados.
  4. Melhora dos níveis de colesterol: Alguns estudos sugerem que dietas com baixo teor de carboidratos podem melhorar os níveis de colesterol HDL, o colesterol “bom”.

No entanto, a dieta também pode causar alguns efeitos colaterais, especialmente durante a fase inicial de adaptação:

  • Cansaço e fraqueza: A transição para uma dieta low carb pode causar fadiga temporária, já que o corpo está se ajustando a uma nova fonte de energia (gorduras em vez de carboidratos).
  • Desequilíbrio eletrolítico: A redução na ingestão de carboidratos pode levar a uma maior perda de água e, consequentemente, de eletrólitos, como sódio e potássio. Isso pode resultar em cãibras musculares e mal-estar.
  • Hipoglicemia: Para pessoas que tomam insulina ou medicamentos que aumentam a produção de insulina, como sulfonilureias, a dieta low carb pode aumentar o risco de hipoglicemia se não for monitorada adequadamente.

Quais são as desvantagens? 

Dificuldade em manter a dieta

A dieta low carb pode ser difícil de seguir a longo prazo, especialmente porque restringe alimentos que muitas pessoas consomem regularmente, como arroz, pão e massas. Isso pode levar a desistências ou à prática de “escapadas”, o que compromete o controle glicêmico.

Deficiências nutricionais

Ao eliminar ou reduzir drasticamente certos grupos alimentares, pode haver a redução da ingestão de nutrientes essenciais, como fibras, vitaminas e minerais, encontrados em frutas, grãos integrais e legumes. A falta desses nutrientes pode prejudicar a saúde intestinal e aumentar o risco de problemas como constipação.

Foco excessivo em proteínas e gorduras

Algumas pessoas que adotam a dieta low carb acabam consumindo quantidades excessivas de proteínas e gorduras saturadas. O excesso de gordura saturada pode impactar negativamente a saúde cardiovascular, um aspecto importante a ser considerado por pessoas com diabetes, que já têm maior risco de doenças do coração.

Perda de massa muscular

Em algumas situações, a dieta low carb pode levar à perda de massa muscular, especialmente se houver um consumo insuficiente de proteínas de alta qualidade. A manutenção da massa muscular é essencial para o metabolismo e para a saúde geral, especialmente para pessoas que estão tentando perder peso.

 Pontos de atenção antes de fazer dieta low carb

  1. Necessidades individuais: Cada pessoa com diabetes tem necessidades específicas. O que funciona para um indivíduo pode não ser adequado para outro. Pessoas com diabetes tipo 1, por exemplo, podem ter mais dificuldade em ajustar suas doses de insulina a uma dieta low carb, o que pode aumentar o risco de complicações.
  2. Impacto social e psicológico: A restrição alimentar imposta pela dieta low carb pode gerar estresse e ansiedade em situações sociais, como jantares e encontros com amigos e familiares. A sensação de privação alimentar pode afetar negativamente a relação com a comida, aumentando o risco de compulsão alimentar em alguns casos.
  3. Riscos para pessoas com certas condições de saúde: Indivíduos com condições renais devem ter cautela ao adotar dietas que aumentam o consumo de proteínas, como a low carb. A sobrecarga proteica pode agravar problemas renais. Além disso, pessoas com histórico de transtornos alimentares devem evitar dietas restritivas, pois podem desencadear comportamentos prejudiciais.
  4. Baixa adesão a longo prazo: Muitos estudos sugerem que, embora a dieta low carb possa ser eficaz no curto prazo, ela é difícil de manter a longo prazo. A maioria das pessoas acaba retornando a uma alimentação mais equilibrada, o que pode levar ao ganho de peso e à piora no controle da glicose.

O que é a dieta low carb?

A dieta low carb é um plano alimentar que busca reduzir a ingestão de carboidratos, com o objetivo de promover a perda de peso e melhorar o controle de certas condições de saúde, como o diabetes. Nessa dieta, a quantidade de carboidratos é reduzida para que o corpo dependa menos da glicose (proveniente dos carboidratos) como fonte de energia, e comece a utilizar mais gordura, inclusive a armazenada, para produção de energia. 

A base da alimentação low carb envolve o consumo de proteínas (carnes, peixes, ovos), gorduras saudáveis (azeite de oliva, abacate, nozes) e vegetais com baixo teor de carboidratos (como folhas verdes, brócolis e abobrinha). Grãos, açúcares e alimentos ricos em carboidratos simples são significativamente limitados.

Existem diferentes níveis de restrição na dieta low carb, desde moderações leves até versões mais extremas, como a dieta cetogênica, que reduz os carboidratos a menos de 10% da ingestão diária total de calorias. 

Como surgiu?

A dieta low carb não é um conceito novo, mas sua popularidade cresceu nas últimas décadas. Ela tem raízes que remontam ao início do século XIX. Um dos primeiros exemplos documentados de uma abordagem alimentar de baixo carboidrato foi o trabalho do médico britânico William Banting, que escreveu um panfleto chamado “Letter on Corpulence”, em 1863. Nesse panfleto, Banting relatava sua experiência de perda de peso ao adotar uma dieta que limitava a ingestão de pão, açúcar e cerveja – alimentos ricos em carboidratos.

No século XX, a ideia foi retomada por vários médicos e pesquisadores. Nos anos 1970, o médico Robert Atkins popularizou a abordagem com a criação da Dieta Atkins, que propunha um consumo baixo de carboidratos e mais alto de gorduras e proteínas. Sua teoria era que ao restringir carboidratos, o corpo entraria em um estado de cetose, no qual queimaria gordura como principal fonte de energia.

A dieta low carb ressurgiu com força nas décadas seguintes, com novos estudos científicos explorando os impactos da redução de carboidratos no controle de peso, diabetes e outras condições metabólicas

Dicas para adotar a dieta low carb de forma segura

Se, após a avaliação com um médico ou nutricionista, você decidir seguir a dieta low carb, aqui estão algumas dicas para fazê-la de forma equilibrada e segura:

  1. Foque em alimentos naturais e integrais: Priorize alimentos ricos em nutrientes, como vegetais de baixo amido (espinafre, brócolis, abobrinha), fontes de proteínas magras (frango, peixe, ovos) e gorduras saudáveis (azeite de oliva, abacate, nozes).
  2. Não elimine todos os carboidratos: A dieta low carb não precisa ser uma dieta “zero carb”. Incorporar fontes de carboidratos complexos, como grãos integrais e legumes, pode ajudar a manter a dieta equilibrada.
  3. Monitore seus níveis de glicose: Se você usa insulina ou outros medicamentos que afetam os níveis de glicose, é fundamental monitorar sua glicemia com frequência para evitar hipoglicemia.
  4. Hidrate-se bem e consuma eletrólitos: A dieta low carb pode levar à desidratação, especialmente nas primeiras semanas. Beber bastante água e consumir alimentos ricos em eletrólitos, como folhas verdes e nozes, pode ajudar a evitar sintomas de fadiga e cãibras.

O que diz a SBD

A SBD e outras organizações de saúde adotam uma postura cuidadosa em relação à dieta low carb em crianças e em pessoas com diabetes tipo 1. Principalmente, devido aos riscos associados a essas populações específicas.

A SBD reconhece a dieta low carb como uma abordagem alimentar que pode ser utilizada no controle do diabetes tipo 2 e, em alguns casos, no tipo 1, desde que seja feita com acompanhamento médico e nutricional. No entanto, a SBD adota uma postura cautelosa e ressalta que o plano alimentar deve ser personalizado, levando em consideração a condição clínica de cada paciente.

 Posicionamento da SBD

  • Redução de carboidratos com cautela: A SBD reconhece que dietas com restrição de carboidratos podem melhorar o controle glicêmico, mas não recomenda reduções extremas para todos os pacientes. A recomendação geral é que a quantidade de carboidratos na dieta seja ajustada com base nas necessidades individuais e no estilo de vida de cada pessoa, sempre com monitoramento frequente dos níveis de glicose.
  • Importância da individualização: A SBD enfatiza que cada pessoa com diabetes é única e, por isso, os planos alimentares precisam ser adaptados de acordo com suas particularidades. Dietas low carb podem ser eficazes para alguns, mas podem não ser apropriadas para outros, especialmente para pessoas com diabetes tipo 1, que precisam equilibrar cuidadosamente a ingestão de carboidratos e a administração de insulina para evitar episódios de hipoglicemia.
  • Segurança a longo prazo: A SBD destaca que, embora a dieta low carb possa ser segura a curto prazo, ainda há dúvidas sobre seus efeitos a longo prazo, especialmente em relação à saúde cardiovascular e renal, áreas que exigem atenção especial em pessoas com diabetes.
  • Acompanhamento médico: Um dos principais pontos do posicionamento da SBD é a necessidade de acompanhamento profissional. A adoção de uma dieta low carb deve ser feita sob a supervisão de médicos e nutricionistas, que podem ajustar as doses de medicamentos ou insulina de acordo com as mudanças na alimentação e evitar possíveis complicações.

Riscos da dieta low carb em crianças

Para crianças, a SBD e nutricionistas especializados em diabetes recomendam cautela no uso da dieta low carb, principalmente pelos seguintes motivos:

  • Necessidade de nutrientes para o crescimento: As crianças estão em fase de crescimento e desenvolvimento, e carboidratos desempenham um papel importante nessa fase. Eles  fornecem energia para as atividades diárias e funções metabólicas essenciais. Reduções drásticas na ingestão de carboidratos podem comprometer a ingestão de nutrientes importantes, como fibras, vitaminas e minerais, que são fundamentais para o desenvolvimento físico e cognitivo.
  • Risco de deficiências nutricionais: Em crianças, a eliminação ou restrição de grupos alimentares pode levar a deficiências nutricionais, especialmente se a dieta não for cuidadosamente equilibrada. Isso pode afetar o crescimento saudável, a saúde intestinal e o desenvolvimento adequado do cérebro.
  • Impacto social e psicológico: Crianças que seguem dietas restritivas, como a low carb, podem sentir-se diferentes de seus colegas, o que pode levar a dificuldades sociais e até ao desenvolvimento de uma relação negativa com a comida. Isso pode resultar em problemas emocionais ou alimentares a longo prazo.

 Riscos da dieta low carb no diabetes tipo 1

Para pessoas com diabetes tipo 1, a dieta low carb também traz riscos que precisam ser considerados e monitorados:

  1. Hipoglicemia: O diabetes tipo 1 exige um controle cuidadoso da glicemia com a administração de insulina. Ao reduzir a quantidade de carboidratos, há o risco de episódios de hipoglicemia (queda acentuada dos níveis de açúcar no sangue). A baixa ingestão de carboidratos, combinada com o uso de insulina, pode dificultar o ajuste correto das doses de insulina. Dessa forma, aumenta o risco de flutuações nos níveis de glicose.
  2. Cetoacidose diabética (CAD): A cetoacidose diabética é uma complicação grave do diabetes tipo 1. O corpo começa a quebrar gordura de maneira excessiva, resultando em níveis perigosamente altos de cetonas no sangue. A dieta low carb, ao incentivar o uso de gordura como fonte de energia, pode aumentar o risco de cetoacidose diabética se não for bem monitorada, especialmente em indivíduos com diabetes tipo 1.
  3. Dificuldade no ajuste de insulina: Em pessoas com diabetes tipo 1, a insulina é administrada com base na quantidade de carboidratos consumidos. Com uma dieta low carb, é mais difícil ajustar corretamente a dose de insulina rápida (para refeições) e basal (de longa duração). Isso pode levar a episódios de hipo ou hiperglicemia, dependendo da resposta do organismo.
  4. Desenvolvimento de comportamentos alimentares restritivos: A adoção de dietas restritivas pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios alimentares, como transtorno de compulsão alimentar ou anorexia. Isso é particularmente importante em jovens com diabetes tipo 1, que já enfrentam desafios diários no manejo da alimentação e dos níveis de glicose.

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