Impacto da desregulação hormonal no diabetes 

A desregulação hormonal no diabetes afeta diretamente o metabolismo da glicose e está relacionada à piora na resistência à insulina e à progressão de complicações metabólicas.

Hormônios sexuais como testosterona e estrogênio estão entre os mais implicados na modulação da resposta glicêmica, sendo que tanto homens quanto mulheres podem sofrer impactos clínicos relevantes a partir de alterações hormonais.

O hipogonadismo masculino e a menopausa estão entre os principais contextos clínicos de desbalanço hormonal com influência direta na evolução do diabetes tipo 2.

Hipogonadismo e resistência à insulina em homens com diabetes tipo 2

Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) indicam que até 40% dos homens com diabetes tipo 2 apresentam hipogonadismo, caracterizado pela produção reduzida de testosterona. A condição tende a ser ainda mais prevalente quando associada à obesidade abdominal e à síndrome metabólica.

A baixa testosterona está associada a:

  • Aumento da gordura visceral
  • Redução da massa muscular
  • Maior resistência à insulina
  • Risco cardiovascular elevado

A deficiência de testosterona contribui para a piora do perfil metabólico ao favorecer inflamação crônica de baixo grau, redução da captação periférica de glicose e alteração no metabolismo lipídico. Essas alterações dificultam o manejo do diabetes e aumentam o risco de complicações micro e macrovasculares.

Estudos de revisão reforçam essa via de mão dupla. Uma análise publicada “Testosterona e diabetes tipo 2”. Baixos níveis de testosterona podem contribuir para o aumento da resistência à insulina e adiposidade, fatores que favorecem o desenvolvimento do diabetes

Por outro lado, o próprio diabetes pode afetar negativamente os níveis de testosterona. Sugerindo que a deficiência de testosterona não apenas aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2, mas também pode ser uma consequência dele.

Relação bidirecional entre testosterona e diabetes

A desregulação hormonal no diabetes envolve um processo complexo que afeta o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, especialmente em homens com diabetes tipo 2. O comprometimento desse eixo endócrino leva à redução dos níveis de testosterona, uma condição frequentemente observada em pacientes com resistência à insulina, obesidade visceral e inflamação crônica.

A relação entre baixos níveis de testosterona e diabetes tipo 2 é bidirecional. Isso significa que tanto a deficiência hormonal pode favorecer o surgimento do diabetes, quanto o próprio diabetes pode levar à supressão do eixo hormonal.

O estudo publicado na revista Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia explica que homens com hipogonadismo apresentam maior resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e alterações lipídicas. 

E o diabetes tipo 2 contribui para a disfunção hormonal por meio da inflamação sistêmica, alterações no eixo hipotálamo-hipófise-gonadal e níveis elevados de leptina e citocinas inflamatórias como TNF-alfa e IL-6. 

Essas alterações geram um ciclo de retroalimentação: a testosterona baixa intensifica o quadro metabólico, enquanto o diabetes agrava a disfunção endócrina. A interação entre esses fatores tem implicações diretas no controle glicêmico, composição corporal e risco cardiovascular, exigindo acompanhamento clínico especializado.

Esse modelo reforça a importância da avaliação hormonal como parte do manejo do diabetes tipo 2, sobretudo em homens com ganho de peso central, fadiga, perda de libido ou dificuldade de controle metabólico mesmo com intervenção adequada.

Testosterona e composição corporal

A testosterona influencia a repartição energética. Homens com deficiência hormonal tendem a:

  • Armazenar mais gordura na região abdominal
  • Ter menor gasto energético basal
  • Apresentar diminuição da sensibilidade à insulina

Essas alterações aumentam a demanda de insulina endógena, favorecendo a exaustão das células beta pancreáticas e a piora da hiperglicemia.

Terapia de reposição de testosterona: riscos e benefícios

A desregulação hormonal no diabetes inclui, entre outros fatores, a presença de hipogonadismo em homens com diabetes tipo 2. Essa condição, caracterizada por níveis reduzidos de testosterona, pode impactar negativamente a composição corporal, o metabolismo da glicose e a saúde cardiovascular.

De acordo com a SBD, a terapia de reposição de testosterona (TRT) pode ser considerada em pacientes com diagnóstico confirmado de hipogonadismo, desde que associada a sintomas clínicos relevantes e após avaliação criteriosa dos riscos e benefícios envolvidos.

A SBD destaca que a TRT pode:

  • Melhorar a resistência à insulina
  • Reduzir a gordura visceral
  • Aumentar a massa muscular
  • Contribuir para o controle glicêmico

Contudo, o uso da TRT deve ser restrito a pacientes com hipogonadismo confirmado laboratorialmente (testosterona total baixa em dois exames matinais, com sintomas clínicos compatíveis), e jamais indicada com o objetivo exclusivo de tratar o diabetes.

Riscos e cuidados no uso da TRT segundo a SBD

A SBD orienta que a prescrição da TRT requer:

  • Avaliação individualizada
  • Exclusão de contraindicações, como histórico de câncer de próstata ou mama, apneia do sono não tratada, hematócrito elevado e insuficiência cardíaca grave
  • Monitoramento regular de efeitos adversos, incluindo exames de testosterona, PSA, hematócrito e perfil lipídico

Além disso, a entidade reforça a necessidade de acompanhamento multiprofissional e da manutenção de estratégias não farmacológicas, como plano alimentar equilibrado e prática regular de atividade física.

A decisão pela TRT deve ser compartilhada entre médico e paciente, considerando os potenciais benefícios metabólicos e os riscos cardiovasculares ou prostáticos, conforme o perfil clínico individual.

Menopausa e disfunções glicêmicas em mulheres com diabetes

A desregulação hormonal no diabetes também se manifesta em mulheres, especialmente durante a transição da menopausa. A queda nos níveis de estrogênio e progesterona impacta diretamente a homeostase glicêmica, o perfil lipídico e a composição corporal, exigindo ajustes no manejo clínico de mulheres com diabetes ou com risco aumentado para a doença.

Segundo a SBD, o período da menopausa representa um momento crítico na saúde metabólica da mulher, com múltiplas alterações fisiológicas que aumentam a predisposição ao desenvolvimento e agravamento do diabetes tipo 2.

Durante e após a menopausa, observa-se:

  • Aumento da gordura abdominal e visceral
  • Redução da sensibilidade à insulina
  • Dislipidemia, com aumento de LDL e triglicerídeos e queda de HDL
  • Redução da taxa metabólica basal
  • Maior risco de resistência insulínica e inflamação crônica de baixo grau

Essas alterações contribuem para o aumento do risco de diabetes tipo 2 e para a dificuldade no manejo glicêmico em mulheres que já vivem com a doença.

Fatores que agravam o risco metabólico

De acordo com o módulo sobre mulheres e diabetes da SBD, fatores que potencializam a desregulação hormonal no diabetes em mulheres na menopausa incluem:

  • Histórico familiar de diabetes
  • Sobrepeso ou obesidade antes da menopausa
  • Estilo de vida sedentário
  • Alterações hormonais abruptas (menopausa precoce ou cirúrgica)

Essas variáveis devem ser consideradas na avaliação de risco e na definição de estratégias preventivas e terapêuticas.

Recomendações da SBD para o manejo na menopausa

A SBD orienta que o cuidado com mulheres nessa fase deve incluir:

  • Avaliação regular da glicemia, perfil lipídico e pressão arterial
  • Adaptação do plano alimentar, com foco em fibras, baixo índice glicêmico e redução de gordura saturada
  • Incentivo à atividade física regular
  • Monitoramento do peso corporal e da composição corporal
  • Acompanhamento ginecológico e endocrinológico integrado

A entidade também destaca que o risco cardiovascular aumenta de forma significativa após a menopausa, especialmente em mulheres com diabetes, exigindo vigilância contínua.

A terapia hormonal (TRH) pode ser considerada em alguns casos para alívio de sintomas e melhora do perfil metabólico, mas deve ser avaliada individualmente, com atenção ao risco cardiovascular e oncológico. A SBD ressalta que a decisão deve ser tomada de forma compartilhada entre paciente e equipe médica.

Terapia hormonal na menopausa: impacto glicêmico

A desregulação hormonal no diabetes em mulheres pós-menopáusicas envolve não apenas alterações fisiológicas espontâneas, mas também possíveis intervenções terapêuticas. A terapia hormonal (TH), quando bem indicada, pode atenuar parte das alterações metabólicas provocadas pela queda dos níveis de estrogênio, desde que conduzida com critério clínico e acompanhamento especializado.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a TH pode auxiliar na modulação do metabolismo da glicose e da distribuição de gordura corporal, além de exercer efeitos positivos sobre o perfil lipídico em algumas pacientes. O benefício metabólico pode ocorrer especialmente em mulheres no início da transição menopausal, com sintomas vasomotores importantes e risco cardiovascular baixo ou moderado.

Entre os efeitos potenciais da terapia hormonal, a SBD destaca:

  • Melhora na sensibilidade à insulina
  • Redução do acúmulo de gordura visceral
  • Ajustes no perfil lipídico (menor LDL e triglicerídeos, aumento de HDL)
  • Redução do risco de diabetes tipo 2 em mulheres com pré-diabetes ou fatores de risco

Esses efeitos, porém, dependem de variáveis clínicas individuais, como:

  • Tipo de hormônio utilizado (estrogênio isolado ou combinado)
  • Via de administração (oral, transdérmica, vaginal)
  • Idade de início da terapia
  • Intervalo entre a menopausa e o início da reposição
  • Presença de comorbidades ou contraindicações

Avaliação de riscos e critérios de prescrição

A SBD reforça que a decisão sobre a terapia hormonal deve ser tomada de forma individualizada, com base em uma análise completa do risco cardiovascular, histórico familiar e ginecológico da paciente.

São consideradas contraindicações absolutas da TH:

  • Câncer de mama ou de endométrio
  • Doença hepática ativa
  • História de tromboembolismo venoso
  • Infarto agudo do miocárdio recente
  • Sangramento vaginal sem causa definida

Em mulheres com diabetes, a indicação da TH deve sempre envolver equipe multiprofissional, incluindo endocrinologista e ginecologista, com avaliação contínua da resposta clínica e dos exames laboratoriais.

A SBD alerta que a TH não deve ser utilizada exclusivamente com o objetivo de prevenir ou tratar o diabetes, mas que pode ser considerada como parte de uma estratégia ampla de cuidado em mulheres sintomáticas e com perfil de risco favorável.

Mecanismos hormonais comuns entre homens e mulheres

Embora os hormônios sexuais sejam distintos, alguns mecanismos compartilhados explicam a associação entre a desregulação hormonal no diabetes, como:

  • Ação periférica na sensibilidade à insulina
  • Influência no acúmulo de gordura visceral
  • Modulação da secreção de insulina pelas células beta
  • Alteração nos níveis de adipocinas e mediadores inflamatórios

Além disso, o cortisol e os hormônios do estresse tendem a se elevar em ambos os sexos com o avanço do diabetes, ampliando os efeitos hormonais adversos.

Impactos clínicos e estratégias de manejo

A compreensão da desregulação hormonal no diabetes é relevante para:

  • Identificar risco aumentado de complicações
  • Personalizar abordagens terapêuticas
  • Definir condutas para reposição hormonal quando necessário

Profissionais de saúde devem incluir a avaliação hormonal no acompanhamento regular de pacientes com diabetes, especialmente naqueles com mau controle glicêmico, sintomas clínicos de disfunção hormonal e alterações na composição corporal.

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