Uso da insulina: mitos e verdades

A insulina, quando recomendada, tem um papel central no tratamento do diabetes, sendo essencial para manter a glicemia dentro da faixa indicada. Apesar disso, muitas dúvidas e informações equivocadas circulam sobre o uso da insulina. Isso pode gerar receio e resistência ao tratamento.

A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) destaca que mitos sobre a insulina dificultam a adesão ao tratamento, aumentando o risco de complicações associadas ao diabetes. 

Histórico da insulina: da descoberta às formulações modernas

A descoberta da insulina revolucionou o tratamento do diabetes. Até o início do século XX, pessoas com diabetes tipo 1 não sobreviviam por muito tempo após o diagnóstico. A situação mudou em 1921, quando os cientistas Frederick Banting e Charles Best, junto com John Macleod e James Collip, conseguiram isolar a insulina e demonstrar sua eficácia em humanos.

Inicialmente, a insulina era extraída do pâncreas de animais, como porcos e bois. Essas insulinas ajudaram muitos pacientes, mas apresentavam variações na resposta do organismo. Nos anos 1980, a insulina humana recombinante começou a ser produzida por engenharia genética, garantindo maior segurança e previsibilidade na ação do hormônio.

Atualmente, os avanços tecnológicos permitiram o desenvolvimento das insulinas análogas, que imitam de forma mais precisa a liberação natural da insulina pelo corpo. Essas insulinas possibilitam um melhor manejo glicêmico e reduzem o risco de episódios de hipoglicemia, proporcionando mais qualidade de vida aos pacientes.

O uso da insulina causa dependência?

Mito! A insulina não causa dependência química. Trata-se de um hormônio que o organismo naturalmente produz. No diabetes tipo 1, a produção de insulina é inexistente, tornando a reposição obrigatória. No diabetes tipo 2, o uso da insulina pode ser necessário devido à progressão da doença, e não por uma dependência causada pelo medicamento.

A SBD reforça que a insulina é um tratamento seguro e eficaz, sendo um recurso necessário para muitos pacientes que não conseguem manter a glicemia controlada apenas com medicamentos orais e mudanças no estilo de vida.

O uso da insulina pode levar ao ganho de peso?

Verdade! Algumas pessoas podem apresentar ganho de peso ao iniciar a terapia com insulina. Isso acontece porque, antes do tratamento, o organismo pode eliminar glicose pela urina devido à falta do hormônio. Com a normalização dos níveis de glicose no sangue, essa perda calórica deixa de ocorrer, podendo resultar em um aumento de peso.

A SBD orienta que esse efeito pode ser minimizado por meio de um plano alimentar equilibrado e atividade física regular, evitando o acúmulo de gordura corporal e promovendo um melhor metabolismo da glicose.

Tomar insulina significa que o diabetes piorou?

Mito! Muitas pessoas acreditam que iniciar o uso da insulina é um sinal de que o diabetes está descontrolado ou em estágio avançado. No entanto, a insulina pode ser introduzida para melhorar o manejo da glicemia e prevenir complicações a longo prazo.

A SBD esclarece que a necessidade de insulina no diabetes tipo 2 está relacionada à progressão natural da doença. Com o tempo, o organismo pode produzir menos insulina, tornando a reposição necessária para manter os níveis glicêmicos dentro da faixa desejada.

A aplicação de insulina é dolorosa?

Mito! As agulhas utilizadas para a aplicação da insulina são extremamente finas e curtas, tornando o procedimento praticamente indolor. Além disso, dispositivos como canetas de insulina facilitam a administração e aumentam o conforto do paciente.

Estudos indicam que a maioria dos pacientes que iniciam o uso da insulina relatam menos dor do que imaginavam antes de começar o tratamento.

O uso da insulina pode causar hipoglicemia severa?

Verdade! Se administrada em dose incorreta ou sem a devida monitorização, a insulina pode levar à hipoglicemia (queda excessiva dos níveis de glicose no sangue).

A SBD reforça que, quando utilizada corretamente, com ajuste de doses e acompanhamento médico adequado, o risco de hipoglicemia pode ser reduzido significativamente. O monitoramento regular da glicemia e a educação sobre os sinais de hipoglicemia são fundamentais para um tratamento seguro.

A insulina perde o efeito se usada por muito tempo?

Mito! O corpo não desenvolve resistência à insulina administrada externamente. O que pode ocorrer é a progressão da resistência insulínica no diabetes tipo 2, exigindo ajustes na dose.

A revisão periódica do tratamento pelo médico possibilita a adaptação do esquema terapêutico conforme a necessidade do paciente, garantindo a eficácia da insulina no longo prazo.

Todas as pessoas com diabetes tipo 2 precisarão de insulina?

Mito! Nem todas as pessoas com diabetes tipo 2 necessitam de insulina. Muitos conseguem manter os níveis de glicose dentro da faixa recomendada com medicação oral, alimentação adequada e atividade física.

A SBD ressalta que a decisão de iniciar a insulina é individualizada, baseada em fatores como a produção de insulina pelo pâncreas, a resposta aos medicamentos orais e a presença de complicações.

A insulina pode ser interrompida se a glicose estiver controlada?

Mito! A interrupção da insulina sem orientação médica pode levar a descompensação da glicemia e aumentar o risco de complicações. Em alguns casos, ajustes no tratamento podem ser feitos, mas sempre com acompanhamento profissional.

A insulina pode ser substituída por medicamentos orais?

Mito! No diabetes tipo 1, a insulina é indispensável, pois o organismo não produz o hormônio. No diabetes tipo 2, em alguns casos, é possível utilizar apenas medicamentos orais para estimular a produção de insulina pelo pâncreas ou melhorar sua ação no organismo. No entanto, há situações em que a insulina continua sendo necessária para evitar complicações.

A insulina pode ser armazenada em temperatura ambiente?

Verdade, com restrições! Insulinas em uso podem ser armazenadas em temperatura ambiente, desde que estejam protegidas da luz e calor excessivo. No entanto, insulinas não utilizadas devem ser mantidas refrigeradas para garantir sua estabilidade e eficácia.

A SBD orienta que insulinas abertas podem ser mantidas fora da geladeira por até 30 dias, desde que a temperatura ambiente não ultrapasse 30°C.

A insulina é uma ferramenta que auxilia o manejo do diabetes, e os mitos que envolvem seu uso podem impactar negativamente a adesão ao tratamento. Esclarecer essas questões com base em evidências científicas é fundamental para garantir que pacientes tomem decisões informadas e evitem complicações.

O acompanhamento médico regular, a educação sobre o uso correto da insulina e a adoção de hábitos saudáveis são fatores que contribuem para um tratamento seguro e eficaz.

Dicas para tornar o uso da insulina mais fácil

A adaptação ao uso da insulina pode ser um desafio no início, mas algumas estratégias ajudam a tornar o processo mais simples e seguro:

Estabeleça uma rotina: defina horários fixos para a aplicação, de acordo com a prescrição médica, e associe esse momento a atividades do dia a dia, como refeições.

📲 Use aplicativos para monitoramento: ferramentas como mySugr, Glooko e Diabetes:M ajudam a registrar doses, horários e níveis de glicose no sangue, facilitando o acompanhamento.

Ative lembretes: alarmes no celular ou anotações em locais visíveis podem ajudar a evitar esquecimentos.

💉 Aprenda a técnica correta: enfermeiros e médicos podem ensinar como aplicar a insulina corretamente, escolhendo os melhores locais e garantindo absorção eficiente.

📋 Rotacione os locais de aplicação: aplicar insulina sempre no mesmo local pode levar à lipohipertrofia (acúmulo de gordura sob a pele), dificultando a absorção do medicamento. Alterne entre abdômen, coxas, braços e glúteos para evitar esse problema.

👩‍⚕️ Mantenha o acompanhamento médico: ajustes na dose e no tipo de insulina podem ser necessários ao longo do tempo. Relatar dúvidas e dificuldades ao profissional de saúde melhora a adesão ao tratamento.

A insulina pode ser aplicada em qualquer lugar do corpo?

Não. Para garantir uma absorção eficaz, a insulina deve ser aplicada em locais específicos do corpo:

  • Abdômen: a região ao redor do umbigo (evitando aplicar muito próximo) é onde a absorção é mais rápida e previsível.
  • Braços: a parte externa dos braços pode ser usada, mas a absorção é um pouco mais lenta.
  • Coxas: a face anterior e lateral das coxas também são locais recomendados, com uma taxa de absorção intermediária.
  • Glúteos: a região superior das nádegas tem absorção mais lenta.

Para evitar complicações, como acúmulo de gordura sob a pele, é importante a rotatividade dos locais de aplicação.

Há diferença entre os tipos de insulina?

Sim, e a escolha da insulina depende das necessidades individuais de cada paciente. Elas são classificadas de acordo com o tempo de ação:

  • Insulina de ação rápida: começa a agir em 10-30 minutos, com pico de ação em 1 a 3 horas. Exemplo: insulina lispro.
  • Insulina de ação curta: inicia efeito em 30-60 minutos, com pico entre 2 e 5 horas. Exemplo: insulina regular.
  • Insulina de ação intermediária: começa a agir em 1 a 2 horas e tem pico entre 4 e 12 horas. Exemplo: insulina NPH.
  • Insulina de ação longa: tem absorção mais lenta e efeito prolongado, sem um pico significativo. Exemplo: insulina glargina.

Médicos avaliam o melhor esquema terapêutico para cada paciente, podendo combinar diferentes tipos de insulina para otimizar o manejo glicêmico.

A insulina pode ser usada em gestantes?

Sim. A insulina é o tratamento mais seguro para o diabetes gestacional e para mulheres grávidas com diabetes tipo 1 ou tipo 2 que necessitam de manejo da glicemia.

Ao contrário de alguns medicamentos orais para diabetes, a insulina não atravessa a placenta, evitando riscos para o feto. Estudos demonstram que manter níveis de glicemia adequados durante a gravidez reduz o risco de complicações para a mãe e o bebê, como macrossomia fetal (bebês com peso elevado), parto prematuro e hipoglicemia neonatal.

O acompanhamento médico se faz necessário para ajustar as doses conforme a necessidade da gestante, garantindo um manejo adequado da glicose ao longo da gestação.

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