Impacto da deficiência nutricional: o que causa e como prevenir

O impacto da deficiência nutricional afeta populações em escala global, com consequências diretas sobre a saúde física, imunológica e cognitiva. Mesmo em contextos de alimentação calórica suficiente, a baixa ingestão de micronutrientes compromete o funcionamento do organismo. 

Um estudo publicado na The Lancet Global Health (2024), liderado pela Global Alliance for Improved Nutrition, mostrou que mais da metade da população mundial consome níveis inadequados de ferro, cálcio, iodo, vitamina E, riboflavina, folato e vitamina C.

É importante diferenciar essa condição da subnutrição causada por insegurança alimentar. A deficiência nutricional pode ocorrer em pessoas com acesso regular à comida, mas cuja alimentação é pobre em qualidade nutricional. Dietas baseadas em ultraprocessados, baixo consumo de vegetais e desequilíbrio entre macro e micronutrientes favorecem o surgimento de carências silenciosas.

No Brasil, o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) estima que 90% da população consome menos cálcio do que o recomendado, e 80% ingere magnésio em níveis insuficientes. A deficiência de vitamina D também é prevalente e afeta a imunidade, músculos e ossos, segundo a SBEM.

Além de hábitos alimentares, doenças crônicas, distúrbios gastrointestinais e medicamentos que alteram a absorção podem agravar o quadro. A identificação precoce e o manejo nutricional adequado ajudam a reduzir riscos e prevenir danos em longo prazo.

🧬 O que caracteriza uma deficiência nutricional?

A deficiência nutricional ocorre quando o organismo não recebe ou não consegue absorver a quantidade necessária de nutrientes para manter suas funções básicas. Ela pode envolver micronutrientes (como ferro, zinco, iodo, vitaminas A, B12, D, entre outros) ou macronutrientes (proteínas, gorduras e carboidratos).

Ao contrário da subnutrição energética — ligada à fome ou ingestão calórica insuficiente —, a deficiência nutricional pode se manifestar mesmo em pessoas com peso adequado ou excesso de peso. O consumo frequente de alimentos ultraprocessados, por exemplo, favorece uma alimentação com baixo valor nutricional, rica em calorias e pobre em nutrientes essenciais.

Entre os sinais clínicos mais comuns estão:

  • Fadiga persistente
  • Queda de cabelo e unhas frágeis
  • Alterações cognitivas ou de humor
  • Maior predisposição a infecções
  • Problemas de crescimento em crianças
  • Dores musculares e ósseas

De acordo com a OMS, as deficiências de ferro, vitamina A e iodo estão entre os problemas de saúde pública mais comuns em países de média e baixa renda No entanto, essas carências também ocorrem em ambientes urbanos e entre indivíduos com acesso à alimentação, mas que mantêm dietas desequilibradas.

O impacto da deficiência nutricional varia conforme o nutriente afetado, a intensidade do quadro e a duração da carência. Quando não diagnosticada e tratada, pode evoluir para doenças crônicas ou agravar condições pré-existentes.

🩺 Impacto da deficiência nutricional nos sistemas do corpo

O impacto da deficiência nutricional é sistêmico. A falta de nutrientes essenciais compromete múltiplas funções do organismo, muitas vezes de forma silenciosa e progressiva. Os efeitos variam conforme o tipo de nutriente afetado, a duração da deficiência e a condição clínica da pessoa.

Veja como diferentes sistemas são afetados:

🧠 Sistema neurológico e cognitivo

  • Carência de vitaminas do complexo B, especialmente B1, B6, B9 e B12, pode provocar alterações de memória, concentração e humor.
  • Deficiências prolongadas estão associadas ao risco aumentado de demência e neuropatias periféricas, como mostram estudos clínicos citados pela OMS.
  • A deficiência de ferro também compromete o desenvolvimento neurológico infantil.

💪 Sistema musculoesquelético

  • A falta de vitamina D e cálcio compromete a formação óssea, aumentando o risco de osteopenia, osteoporose e fraturas, segundo a SBEM.
  • A carência de proteínas e magnésio interfere na função muscular e gera dores e fraqueza.

🩸 Sistema hematológico e imunológico

  • A deficiência de ferro está diretamente ligada à anemia ferropriva, condição que afeta 25% da população mundial, segundo a OMS.
  • Baixos níveis de zinco, selênio e vitaminas A e C reduzem a resposta imunológica, favorecendo infecções respiratórias e inflamações recorrentes.

🫀 Sistema cardiovascular e metabólico

  • Estudo da The Lancet Global Health associa deficiência de micronutrientes à hipertensão, resistência à insulina e disfunções endoteliais.
  • O desequilíbrio nutricional também contribui para dislipidemias e aumento do risco cardiovascular em adultos jovens.

👶 Crescimento e desenvolvimento infantil

  • A deficiência nutricional nos primeiros anos de vida pode causar déficit de estatura, atraso cognitivo e baixo rendimento escolar.
  • A Lancet destaca que 45% das mortes infantis globais estão associadas à desnutrição, incluindo deficiências específicas de micronutrientes.

👥 Grupos mais vulneráveis

O impacto da deficiência nutricional não afeta todas as pessoas da mesma forma. Existem grupos populacionais com maior risco de desenvolver carências específicas devido a demandas fisiológicas elevadas, condições clínicas ou barreiras socioeconômicas.

Confira os principais grupos vulneráveis:

🤰 Gestantes e lactantes

  • A demanda por ferro, ácido fólico, cálcio e vitamina D aumenta durante a gestação e o aleitamento.
  • A carência desses nutrientes está relacionada a partos prematuros, baixo peso ao nascer e risco de pré-eclâmpsia.
  • Segundo a OMS, a suplementação de ferro e ácido fólico é recomendada como estratégia global de prevenção.

👶 Crianças e adolescentes

  • O crescimento acelerado exige aporte constante de zinco, ferro, cálcio e vitaminas do complexo B.
  • A deficiência nutricional nesse período compromete o desenvolvimento físico, neurológico e imunológico, além de aumentar o risco de doenças futuras.
  • Dados do IBGE revelam alta prevalência de anemia em menores de 5 anos no Brasil.

👵 Idosos

  • Alterações fisiológicas, uso contínuo de medicamentos e perda de apetite dificultam a absorção e o aproveitamento de vitamina B12, vitamina D, zinco e proteínas.
  • Essas deficiências estão ligadas à sarcopenia, osteoporose e queda na imunidade.

🩺 Pacientes com doenças crônicas

  • Condições como doença renal, diabetes, câncer, HIV e doenças inflamatórias intestinais interferem na absorção, excreção e metabolismo de nutrientes.
  • A deficiência nutricional, nesses casos, pode piorar o prognóstico e dificultar a resposta ao tratamento.

🍽️ Populações em insegurança alimentar

  • A PNS/IBGE mostrou que 36,7% dos domicílios brasileiros apresentam algum grau de insegurança alimentar.
  • Mesmo quando há acesso à comida, a baixa qualidade nutricional dos alimentos disponíveis contribui para deficiências silenciosas.

⚠️ Principais causas da deficiência nutricional

O impacto da deficiência nutricional está diretamente ligado a uma combinação de fatores biológicos, alimentares e sociais. Nem sempre a causa está na quantidade de alimentos consumidos, mas sim na qualidade da alimentação, na capacidade de absorção dos nutrientes e em condições clínicas subjacentes.

Veja as principais causas:

🍔 Alimentação pobre em nutrientes

  • O consumo excessivo de ultraprocessados, com alto teor de açúcar, sódio e gorduras, reduz o espaço para alimentos fontes de vitaminas e minerais.
  • Dietas desequilibradas, com baixa diversidade, comprometem a oferta de micronutrientes mesmo em ingestões calóricas adequadas.
  • A OMS considera o padrão alimentar moderno um dos principais vetores de carências nutricionais nos centros urbanos.

🧬 Doenças que afetam a absorção

  • Doença celíaca, síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal (DII) e outras condições gastrointestinais podem interferir na absorção de ferro, cálcio, vitaminas B12, A e D.
  • Em pacientes com bypass gástrico ou bariátrica, é comum a necessidade de suplementação crônica.

💊 Interações medicamentosas

  • O uso prolongado de antiácidos, metformina, anticonvulsivantes e diuréticos pode interferir na absorção de vitamina B12, cálcio, potássio e folato.
  • Segundo a SBEM, pacientes idosos em uso contínuo de múltiplos medicamentos devem ser acompanhados com atenção nutricional.

🧓 Fatores fisiológicos e envelhecimento

  • O envelhecimento reduz a produção de enzimas digestivas e o apetite, dificultando a ingestão e absorção de nutrientes.
  • A redução da exposição solar e menor capacidade de conversão cutânea afetam os níveis de vitamina D.

🌍 Condições socioeconômicas

  • A insegurança alimentar é fator determinante no Brasil e em diversos países de baixa e média renda.
  • Ainda que a fome esteja em declínio em algumas regiões, a qualidade da alimentação continua comprometida, perpetuando carências nutricionais invisíveis.

🚨 Sintomas mais comuns da deficiência nutricional

Os sinais clínicos nem sempre são imediatos, mas o impacto da deficiência nutricional pode ser identificado por manifestações frequentes no dia a dia. Esses sintomas variam conforme o nutriente afetado, mas alguns padrões costumam se repetir:

  • Fadiga persistente e fraqueza muscular
  • Queda de cabelo e unhas quebradiças
  • Dificuldade de concentração e lapsos de memória
  • Feridas na boca ou língua dolorida
  • Palidez, tontura e batimentos cardíacos acelerados
  • Infecções frequentes e imunidade baixa
  • Dor óssea, formigamentos e câimbras
  • Alterações de humor, como irritabilidade ou tristeza constante
  • Pele seca e descamação
  • Dificuldade de crescimento em crianças

🩻 Doenças associadas ao impacto da deficiência nutricional

Algumas doenças têm relação direta com carências específicas de micronutrientes. O diagnóstico correto e o manejo nutricional são essenciais para o tratamento:

  • Anemia ferropriva – deficiência de ferro
  • Osteoporose – deficiência de cálcio e vitamina D
  • Escorbuto – deficiência grave de vitamina C
  • Beribéri – deficiência de tiamina (vitamina B1)
  • Raquitismo – deficiência de vitamina D em crianças
  • Neuropatia periférica – deficiência de vitamina B12
  • Hipotireoidismo – deficiência de iodo
  • Síndrome da má absorção – carência múltipla por problemas intestinais
  • Déficit de crescimento e atraso na puberdade – deficiência de zinco, ferro, vitamina A e proteínas

Muitos desses quadros têm prevenção simples, com orientação alimentar e, em alguns casos, suplementação individualizada conforme diretrizes clínicas.

📊 Como a ciência tem medido o impacto da deficiência nutricional

A produção científica sobre deficiência nutricional tem avançado na mensuração dos efeitos sistêmicos provocados pela carência de micronutrientes. Além dos sintomas clínicos, os estudos vêm demonstrando impactos estruturais, como o prejuízo ao desenvolvimento cognitivo, ao crescimento infantil e ao sistema imunológico.

No levantamento dos pesquisadores da Global Alliance for Improved Nutrition, identificou-se a  ingestão inadequada de sete micronutrientes em mais da metade da população mundial. O artigo aponta que essa condição interfere na produtividade, na longevidade e na saúde metabólica de populações economicamente ativas, ampliando desigualdades entre países e dentro dos próprios territórios.

No Brasil, o CFN e a SBEM têm reforçado que a persistência dessas deficiências está relacionada ao aumento da prevalência de doenças osteometabólicas, como osteoporose e sarcopenia, e à elevação de quadros de anemia ferropriva, mesmo entre indivíduos com acesso regular à alimentação. A OMS, por sua vez, reconhece que carências de ferro, iodo e vitamina A seguem entre os principais desafios nutricionais da saúde pública global.

Esses dados evidenciam que o impacto da deficiência nutricional é mensurável, frequente e prevenível — desde que identificado precocemente e acompanhado de estratégias de intervenção nutricional individual e coletiva

🛡️ Manejo e estratégias para prevenção da deficiência nutricional

A prevenção e o manejo da deficiência nutricional envolvem uma combinação de ações individuais, clínicas e de saúde pública. Embora parte das carências esteja relacionada a fatores fisiológicos ou doenças, grande parte dos casos pode ser evitada por meio de ajustes no padrão alimentar e acompanhamento profissional adequado.

Entre as medidas preventivas, o planejamento alimentar equilibrado é uma das mais eficazes. A adoção de cardápios variados, com inclusão regular de frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras, contribui para a oferta adequada de micronutrientes essenciais, como ferro, zinco, cálcio e vitaminas A, D, E e do complexo B. O Guia Alimentar para a População Brasileira, elaborado pelo Ministério da Saúde, recomenda reduzir o consumo de ultraprocessados e priorizar alimentos in natura ou minimamente processados.

Quando há risco aumentado ou confirmação clínica de deficiência, a suplementação nutricional pode ser indicada, com base em exames laboratoriais e prescrição profissional. A fortificação de alimentos, como a adição de ferro e ácido fólico em farinhas e de iodo no sal de cozinha, também é uma estratégia amplamente utilizada no Brasil como política pública de prevenção, segundo a Anvisa.

Além disso, grupos com maior vulnerabilidade, como gestantes, idosos e pessoas com doenças crônicas, devem manter acompanhamento nutricional individualizado, garantindo monitoramento contínuo da ingestão e absorção de nutrientes. O diagnóstico precoce e a intervenção adequada evitam a progressão para doenças associadas e reduzem o risco de complicações clínicas.

O sucesso das estratégias depende de ações integradas entre profissionais de saúde, educadores, gestores públicos e a população em geral — promovendo ambientes alimentares mais saudáveis e conscientes.

👩‍⚕️ Quando procurar orientação profissional?

Nem sempre os sinais da deficiência nutricional são evidentes. Em muitos casos, o quadro se desenvolve de forma silenciosa, agravando-se com o tempo. A procura por avaliação profissional deve ser considerada sempre que houver sintomas persistentes, alterações laboratoriais ou condições que comprometam a ingestão ou absorção de nutrientes.

A orientação é especialmente indicada em situações como:

    • fadiga sem causa aparente,
    • queda de cabelo ou unhas frágeis,
    • alterações cognitivas e de humor,
    • infecções recorrentes,
    • histórico de doenças gastrointestinais ou
  • uso prolongado de medicamentos que interfiram na absorção nutricional.

Pessoas em fases fisiológicas específicas, como gestação, amamentação, infância e envelhecimento, também se beneficiam de uma avaliação periódica com nutricionistas ou endocrinologistas. Em alguns casos, a intervenção exige suplementação controlada ou adaptação do plano alimentar com acompanhamento profissional.

Além dos exames bioquímicos, o histórico alimentar, a presença de comorbidades e os hábitos de vida devem ser considerados na análise. Essa abordagem integrada permite detectar carências antes que evoluam para quadros clínicos graves.

Buscar ajuda especializada contribui para um manejo mais eficaz da deficiência nutricional, reduzindo riscos e promovendo mais saúde e qualidade de vida a longo prazo.

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