A obesidade grau 1 é caracterizada por um índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 34,9 kg/m². Embora represente o estágio inicial da obesidade, já está associada ao aumento do risco de hipertensão, diabetes tipo 2 e disfunções metabólicas. O diagnóstico precoce permite a adoção de medidas que reduzem o impacto dessa condição na saúde a longo prazo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo. No Brasil, dados do Vigitel 2023 mostram que 22,8% da população adulta apresenta obesidade — um aumento expressivo em comparação com os 11,8% registrados em 2006. Esse crescimento contínuo acende um alerta para a necessidade de estratégias de prevenção voltadas à fase inicial da doença.
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) reforça que a obesidade grau 1, apesar de menos grave do que os graus 2 e 3, não deve ser subestimada. Trata-se de um marcador de risco metabólico que exige acompanhamento médico, avaliação individualizada e mudanças sustentadas no estilo de vida.
O que é obesidade grau 1?
A obesidade grau 1 é classificada quando o índice de massa corporal (IMC) de um indivíduo está entre 30 e 34,9 kg/m². Essa faixa representa o início da classificação clínica da obesidade e indica acúmulo excessivo de gordura corporal que já pode comprometer o funcionamento metabólico e aumentar o risco de doenças crônicas.
O cálculo do IMC é feito dividindo-se o peso em quilogramas pela altura ao quadrado. Por exemplo, uma pessoa com 1,70m de altura e 87kg apresenta um IMC de 30,1 kg/m², caracterizando obesidade grau 1.
A Abeso e o Ministério da Saúde seguem a referência adotada pela OMS para essa classificação. A categorização por graus tem como objetivo orientar o tratamento e alertar para a progressão do risco cardiometabólico.
Apesar de ser considerada uma forma menos grave em relação à obesidade grau 2 (IMC entre 35 e 39,9) e grau 3 (IMC ≥ 40), a obesidade grau 1 já está associada a inflamação crônica leve, resistência à insulina e aumento da pressão arterial, entre outros marcadores de risco.
Fatores que levam à obesidade grau 1
A obesidade grau 1 é resultado da interação entre fatores ambientais, genéticos, metabólicos e comportamentais. A combinação dessas condições pode favorecer o acúmulo de gordura corporal e desencadear alterações metabólicas, mesmo em pessoas que não apresentam sintomas evidentes nos estágios iniciais.
Entre os principais fatores associados estão:
- Alimentação com alto consumo calórico e pobre em nutrientes, especialmente com o uso frequente de alimentos ultraprocessados e bebidas açucaradas.
- Sedentarismo, caracterizado por baixos níveis de atividade física no dia a dia e longos períodos em comportamento sedentário, como assistir TV ou usar o celular.
- Alterações hormonais, como hipotireoidismo, síndrome de Cushing ou disfunções no eixo leptina-grelina, que influenciam o apetite e o metabolismo energético.
- Predisposição genética, observada quando há histórico familiar de obesidade ou doenças metabólicas associadas.
- Uso de medicamentos que interferem no peso corporal, como antipsicóticos, antidepressivos tricíclicos, corticosteroides e anticoncepcionais.
- Distúrbios do sono, como insônia crônica ou apneia do sono, que alteram o equilíbrio hormonal e favorecem o ganho de peso.
- Fatores psicossociais, incluindo episódios de estresse crônico, ansiedade, depressão ou histórico de traumas que interferem na relação com o alimento.
De acordo com a Abeso, a obesidade deve ser compreendida como uma doença crônica, recidivante e multifatorial, e não apenas como consequência de hábitos alimentares ou falta de força de vontade. Essa visão é fundamental para um tratamento mais efetivo e livre de estigmas.
Riscos associados à obesidade grau 1
Mesmo sendo o estágio inicial da obesidade, o grau 1 já está relacionado a alterações fisiológicas e metabólicas que podem evoluir para condições clínicas mais graves. O excesso de gordura, especialmente a visceral, promove um estado inflamatório crônico de baixo grau, que desregula o metabolismo e aumenta o risco cardiovascular.
🫀 Risco cardiovascular aumentado
A obesidade grau 1 está associada ao aumento da pressão arterial, níveis elevados de triglicerídeos e redução do colesterol HDL. Esses fatores compõem a síndrome metabólica, que amplia as chances de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica.
Estudos indicam que mesmo pequenos aumentos no IMC já elevam significativamente o risco cardiovascular, especialmente quando há gordura abdominal em excesso.
🩸 Maior chance de diabetes tipo 2
A resistência à insulina é comum entre pessoas com obesidade grau 1, mesmo na ausência de sintomas. Essa condição interfere na regulação da glicose e pode evoluir para pré-diabetes e posteriormente diabetes tipo 2.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, mais de 90% dos casos de diabetes tipo 2 estão associados ao excesso de peso, e intervenções precoces podem retardar ou evitar a progressão da doença.
🧠 Comprometimentos neurológicos e cognitivos
Pesquisas recentes identificam associação entre obesidade e redução do volume cerebral, especialmente em áreas relacionadas à memória e à função executiva. Além disso, há aumento no risco de doença de Alzheimer, conforme evidenciado em estudos de coorte publicados pela Neurology (2019).
🧬 Disfunções metabólicas e inflamação crônica
A obesidade ativa vias inflamatórias, como a elevação de citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-alfa), que contribuem para danos ao endotélio vascular e resistência à insulina. O tecido adiposo visceral age como um órgão endócrino, interferindo na sinalização hormonal e agravando o risco de múltiplas doenças crônicas.
🫁 Impacto na função pulmonar e sono
A obesidade grau 1 pode afetar a mecânica respiratória, reduzindo a expansão pulmonar e favorecendo a ocorrência de apneia obstrutiva do sono. Esse distúrbio está associado à fadiga diurna, hipertensão noturna e piora do controle glicêmico.
Manejo da obesidade grau 1: intervenções possíveis no início do quadro
A abordagem da obesidade grau 1 deve ser individualizada, contínua e multidisciplinar. Como se trata de um estágio inicial, há maior potencial de reversão de danos metabólicos com intervenções sustentadas. O manejo envolve mudanças no estilo de vida, apoio psicológico, acompanhamento clínico e, em alguns casos, uso de medicamentos.
🍽️ Alimentação e plano alimentar estruturado
A recomendação principal é a adoção de um plano alimentar balanceado, baseado em alimentos in natura e minimamente processados, com orientação profissional.
Pontos-chave do plano alimentar:
- Redução do consumo de ultraprocessados, bebidas açucaradas e gorduras saturadas.
- Inclusão de legumes, frutas, fibras e proteínas magras.
- Refeições em horários regulares, respeitando a fome e a saciedade.
- Apoio de nutricionista para adaptar o plano à rotina e aos objetivos individuais.
O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, destaca que ambientes saudáveis também são determinantes para escolhas alimentares adequadas.
🏃♀️ Atividade física e rotina ativa
A prática regular de atividade física contribui para a perda de peso, melhora da sensibilidade à insulina e redução da inflamação.
Recomendações gerais:
- Pelo menos 150 minutos semanais de atividade aeróbica moderada, como caminhada, bicicleta ou dança.
- Combinação com exercícios de força para manutenção da massa magra.
- Redução do tempo de sedentarismo (televisão, computador, celular).
O incentivo à atividade física deve considerar as barreiras individuais e sociais, como insegurança urbana, tempo disponível e condições físicas.
🧠 Apoio psicológico e mudanças comportamentais
A presença de transtornos alimentares, ansiedade ou compulsão alimentar é comum em pessoas com obesidade grau 1. O acompanhamento psicológico ou psiquiátrico pode ser necessário.
Ações comportamentais incluem:
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
- Registro de alimentação e emoções associadas
- Estratégias de autocontrole e enfrentamento de gatilhos
As diretrizes da Abeso ressaltam que suporte emocional e psicoeducação são componentes essenciais do tratamento.
🩺 Acompanhamento médico regular
Mesmo sem comorbidades aparentes, é indicado que o paciente com obesidade grau 1 faça monitoramento clínico periódico. Isso inclui:
- Avaliação de pressão arterial, glicemia, perfil lipídico e função hepática.
- Exames de imagem quando necessário (ultrassonografia abdominal, densitometria).
- Rastreamento de complicações precoces, como esteatose hepática.
O objetivo é detectar alterações subclínicas e ajustar precocemente as condutas de manejo.
Quando considerar medicamentos para obesidade grau 1?
O uso de medicamentos no tratamento da obesidade grau 1 pode ser indicado em situações específicas, especialmente quando intervenções não farmacológicas isoladas não foram suficientes ou quando há presença de comorbidades associadas. A decisão deve ser tomada por profissionais habilitados, com base em diretrizes clínicas e avaliação individual.
💊 Critérios clínicos para prescrição
Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Obesidade, publicado pelo Ministério da Saúde, e as recomendações da Abeso, a farmacoterapia pode ser considerada em pacientes com obesidade grau 1 nas seguintes condições:
- IMC entre 30 e 34,9 kg/m², com comorbidades associadas, como hipertensão, dislipidemia, pré-diabetes ou apneia do sono.
- Ausência de resposta após mínimo de 6 meses de tratamento não farmacológico estruturado, com plano alimentar e atividade física.
- Comprometimento da qualidade de vida relacionado ao excesso de peso.
A escolha do medicamento deve considerar perfil de segurança, eficácia, custo, efeitos colaterais e acesso no sistema público ou privado.
📈 Evidências de eficácia dos medicamentos aprovados
Atualmente, estão aprovados no Brasil medicamentos como:
- Liraglutida 3,0 mg: agonista do GLP-1, indicado para obesidade mesmo na ausência de diabetes. Estudos mostram perda média de 8% a 10% do peso corporal em 56 semanas.
- Semaglutida 2,4 mg: também agonista do GLP-1, com resultados superiores aos demais fármacos no estudo STEP 1, publicado no New England Journal of Medicine (2021), com redução média de 15% do peso.
- Orlistate: inibidor da lipase pancreática, que reduz a absorção de gordura na dieta. Apresenta perda de peso mais modesta (3% a 5%), mas tem perfil de segurança mais estabelecido.
- Bupropiona + naltrexona: combinação que atua em centros de regulação do apetite, aprovada no Brasil, mas com acesso mais restrito.
As diretrizes recomendam que o uso de medicamentos seja sempre associado a mudanças no estilo de vida, e que o tratamento seja reavaliado periodicamente para verificar eficácia e tolerabilidade.
📋 Acompanhamento e critérios de continuidade
Durante o uso de medicamentos, o paciente deve ser acompanhado regularmente para monitoramento de:
- Perda de peso esperada (pelo menos 5% em 3 meses)
- Efeitos adversos ou intolerâncias
- Adesão ao plano terapêutico completo
Caso não haja resposta adequada, deve-se considerar a suspensão do medicamento e reavaliação das estratégias de manejo.
Monitoramento e prevenção da progressão
A obesidade grau 1 requer acompanhamento clínico contínuo para evitar a progressão para os graus 2 e 3, nos quais os riscos de complicações metabólicas, cardiovasculares e respiratórias se tornam ainda mais expressivos. O monitoramento regular permite ajustes precoces no plano terapêutico e maior adesão às mudanças de estilo de vida.
Entre as ações recomendadas estão:
- Reavaliações periódicas de peso, circunferência abdominal e IMC
- Monitoramento de glicemia, perfil lipídico, pressão arterial e exames hepáticos
- Reflexões frequentes sobre motivação, barreiras e avanços comportamentais
- Ajuste das intervenções conforme a resposta clínica e a realidade do paciente
A prevenção da progressão envolve estratégias combinadas de alimentação, atividade física, suporte psicológico e, quando indicado, farmacoterapia. O objetivo não é apenas a redução do peso, mas também a melhora de parâmetros metabólicos, qualidade de vida e prevenção de doenças associadas.