A obesidade grau 2 é diagnosticada quando o índice de massa corporal (IMC) está entre 35 e 39,9 kg/m². Essa classificação indica um estágio mais avançado da doença, com maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, apneia do sono e outras complicações metabólicas. A abordagem clínica deve ser intensificada para reduzir esses riscos e evitar a progressão para a obesidade grau 3.
De acordo com dados do Vigitel 2023, mais de 1 em cada 5 brasileiros adultos vive com obesidade. Esse crescimento é mais acentuado entre as mulheres e nas regiões Sudeste e Sul. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os custos globais com o tratamento das consequências da obesidade alcancem US$ 1,2 trilhão até 2025, reforçando a necessidade de atenção especial às formas mais avançadas da condição.
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) destaca que a obesidade grau 2 está associada a alterações inflamatórias intensas e dificuldade na mobilidade, impactando diretamente a qualidade de vida e a função social. Por isso, a intervenção precoce e integrada com equipe multiprofissional é recomendada.
❗O que é obesidade grau 2?
A obesidade grau 2 é classificada quando o índice de massa corporal (IMC) está entre 35 e 39,9 kg/m², sem a presença de obesidade grau 3 (que ocorre com IMC igual ou superior a 40). Nessa faixa, o excesso de gordura corporal costuma ser mais evidente e os riscos metabólicos aumentam significativamente.
O IMC é calculado pela fórmula: peso (kg) dividido pela altura (m) ao quadrado. Por exemplo, uma pessoa com 1,65 m de altura e 107 kg apresenta um IMC de 39,3 kg/m² — configurando obesidade grau 2.
A Abeso, o Ministério da Saúde e a OMS utilizam esse critério para estabelecer diretrizes clínicas e priorizar ações de cuidado. Essa classificação ajuda a definir protocolos de tratamento, indicação de medicamentos e até mesmo avaliação para cirurgia bariátrica, quando houver falha no manejo clínico.
Esse estágio da doença tende a estar associado a comorbidades já instaladas, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes tipo 2, dislipidemias e esteatose hepática não alcoólica, exigindo acompanhamento contínuo e estratégias combinadas de tratamento.
⚙️ Fatores que contribuem para a obesidade grau 2
A obesidade grau 2 é resultado da interação entre múltiplos fatores biológicos, comportamentais e sociais. Nesse estágio, há tendência ao agravamento de hábitos prejudiciais e maior dificuldade na reversão espontânea do quadro, exigindo atenção clínica intensificada.
🍔 Hábitos alimentares inadequados
O consumo frequente de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras e sódio, está associado ao ganho acelerado de peso. Além disso, padrões alimentares com baixa ingestão de fibras, vegetais e proteínas favorecem o acúmulo de gordura visceral.
Outros aspectos incluem:
- Refeições irregulares, com longos períodos de jejum e compensações noturnas.
- Comer emocional como resposta ao estresse, ansiedade ou frustração.
- Ambientes obesogênicos, com baixa disponibilidade de alimentos saudáveis.
🛋️ Sedentarismo e baixa mobilidade
A inatividade física é um fator relevante tanto na instalação quanto na manutenção da obesidade. No grau 2, o excesso de peso compromete a disposição física e pode gerar limitação funcional, dificultando ainda mais a prática de exercícios.
Dados do Vigitel 2023 apontam que 47% dos adultos brasileiros não atingem o mínimo recomendado de atividade física semanal, contribuindo para o aumento dos casos de obesidade grave.
🧬 Genética e disfunções hormonais
Embora os genes não sejam responsáveis isoladamente pelo acúmulo de gordura, variantes genéticas influenciam a resposta ao alimento, o gasto energético e a tendência ao ganho de peso. Além disso, distúrbios como hipotireoidismo, síndrome dos ovários policísticos (SOP) e hipogonadismo também impactam o metabolismo.
Essas alterações precisam ser identificadas e tratadas para não comprometer o sucesso do manejo clínico.
🧠 Fatores psicológicos e sociais
A obesidade grau 2 pode estar associada a eventos traumáticos, histórico de abuso, transtornos de ansiedade ou depressão, que afetam o comportamento alimentar e a percepção corporal.
Aspectos como pobreza, insegurança alimentar, dificuldade de acesso à saúde e estigmatização social também agravam o risco de ganho de peso e dificultam a adesão ao tratamento.
🚨 Riscos associados à obesidade grau 2
A obesidade grau 2 está associada a alterações metabólicas, cardiovasculares, respiratórias e musculoesqueléticas significativas. O acúmulo de gordura, principalmente visceral, promove inflamação crônica e desequilíbrio hormonal, ampliando o risco de doenças crônicas graves.
🫀 Complicações cardiovasculares
Pessoas com obesidade grau 2 apresentam maior risco de hipertensão arterial sistêmica, doença arterial coronariana e acidente vascular cerebral (AVC). O excesso de tecido adiposo contribui para disfunção endotelial e rigidez arterial.
O estudo INTERHEART, conduzido em 52 países, mostrou que a obesidade abdominal é um dos principais preditores de infarto agudo do miocárdio em adultos de meia-idade.
🩸 Distúrbios glicêmicos e metabólicos
A resistência à insulina é quase sempre presente nesse estágio da obesidade. Isso favorece a progressão para pré-diabetes, diabetes tipo 2 e dislipidemia (elevação de triglicerídeos e LDL, redução do HDL).
A presença simultânea desses fatores compõe a síndrome metabólica, que amplia o risco de mortalidade cardiovascular.
🫁 Comprometimento respiratório
O excesso de gordura na região abdominal e torácica prejudica a mecânica pulmonar, causando redução da capacidade vital e da ventilação alveolar. Há maior prevalência de:
- Apneia obstrutiva do sono
- Hipoventilação alveolar
- Asma agravada pela obesidade
Esses quadros afetam o sono, a oxigenação e contribuem para o cansaço diurno.
🧠 Impacto sobre a saúde mental
Diversos estudos observam associação entre obesidade grau 2 e sintomas de depressão, ansiedade e baixa autoestima. O estigma social e a dificuldade de mobilidade contribuem para o isolamento social e piora da saúde emocional.
A Abeso recomenda abordagem integrada que inclua suporte psicológico desde o início do tratamento.
🦴 Problemas osteoarticulares
O aumento do peso corporal eleva a sobrecarga nas articulações, especialmente nos joelhos, quadris e coluna. Isso favorece o surgimento ou agravamento de:
- Osteoartrite
- Lombalgias
- Limitação funcional
Essas alterações reduzem a capacidade de exercício e impactam diretamente a autonomia.
🧩 Manejo da obesidade grau 2
O tratamento da obesidade grau 2 exige abordagem intensiva, individualizada e multidisciplinar. Nesse estágio, é comum que comorbidades já estejam presentes, o que demanda estratégias combinadas de mudança de estilo de vida, medicamentos e, em alguns casos, avaliação para cirurgia bariátrica.
🥦 Intervenção nutricional personalizada
A orientação nutricional deve considerar o histórico clínico, hábitos alimentares e condições metabólicas do paciente. A meta é promover déficit calórico sustentado, sem comprometer a qualidade da alimentação.
Abordagens indicadas:
- Alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados
- Redução do consumo de açúcares, gorduras saturadas e ultraprocessados
- Fracionamento de refeições, com foco na saciedade e resposta glicêmica
- Suporte contínuo de nutricionista para aderência e reeducação alimentar
🏃♂️ Exercício físico supervisionado
A prática regular de atividade física é essencial para a melhora da sensibilidade à insulina, perda de peso e preservação da massa magra. No entanto, em obesidade grau 2, pode haver limitações ortopédicas e cardiorrespiratórias.
Recomendações:
- Início com atividades aeróbicas de baixo impacto: caminhada, bicicleta ergométrica, hidroginástica
- Evolução gradual para exercícios de força (sob orientação especializada)
- Avaliação funcional prévia e adaptação à capacidade física e clínica
🧠 Apoio psicológico e abordagem comportamental
O suporte emocional é componente central do tratamento. A obesidade grau 2 frequentemente envolve questões emocionais profundas, histórico de dieta restritiva e estigmatização social.
Estratégias comportamentais incluem:
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC)
- Identificação e manejo de gatilhos emocionais
- Fortalecimento da autonomia e autoestima
- Apoio em grupos multiprofissionais
💊 Uso de medicamentos antiobesidade
A farmacoterapia pode ser iniciada em pacientes com obesidade grau 2, mesmo na ausência de comorbidades, conforme as diretrizes da Abeso. A escolha do medicamento deve levar em conta a resposta clínica, tolerabilidade e histórico individual.
Medicamentos disponíveis no Brasil:
- Liraglutida 3,0 mg
- Semaglutida 2,4 mg (com eficácia superior no estudo STEP 1, NEJM 2021)
- Orlistate, com perfil de segurança mais conhecido
- Bupropiona + naltrexona, com ação sobre apetite e comportamento alimentar
O tratamento farmacológico deve ser monitorado continuamente, com reavaliação após 12 semanas para medir a resposta.
🏥 Cirurgia bariátrica na obesidade grau 2
A cirurgia bariátrica é uma das estratégias indicadas para o tratamento da obesidade grau 2 em casos específicos. Embora nem todos os pacientes desse grupo sejam elegíveis, a intervenção cirúrgica pode ser considerada quando há falha do tratamento clínico e presença de comorbidades associadas.
📋 Critérios para indicação cirúrgica
Segundo o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do SUS e a SBCBM, os critérios mínimos para indicação da cirurgia em obesidade grau 2 são:
- IMC entre 35 e 39,9 kg/m²
- Presença de pelo menos uma comorbidade grave associada, como:
- Diabetes tipo 2 de difícil controle
- Apneia obstrutiva do sono moderada a grave
- Hipertensão arterial refratária
- Esteatose hepática com fibrose
- Falha no tratamento clínico intensivo por pelo menos 2 anos
A indicação cirúrgica também exige avaliação multiprofissional, incluindo endocrinologista, cirurgião bariátrico, nutricionista e psicólogo.
⚙️ Tipos de procedimentos e efeitos esperados
Os principais tipos de cirurgia bariátrica realizados no Brasil são:
- Bypass gástrico (cirurgia de Fobi-Capella)
→ Combina restrição e má absorção, com bons resultados no controle do diabetes tipo 2. - Sleeve gástrico (gastrectomia vertical)
→ Restritiva, promove saciedade precoce com menor risco de deficiência nutricional.
Ambos os procedimentos resultam em perda de 20% a 35% do peso corporal total e melhora significativa nas comorbidades metabólicas, especialmente no primeiro ano após a cirurgia.