Terapia de reposição hormonal na menopausa: mitos e verdades

A menopausa é uma fase natural na vida de todas as mulheres, com idade média de ocorrência aos 50 anos no Brasil, segundo o estudo “Age at natural menopause and its associated characteristics among Brazilian women: cross-sectional results from ELSI-Brazil”, publicado no Menopause – The Journal of The Menopause Society. Mas o que realmente significa atravessar essa fase e como a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) na menopausa pode ser uma aliada?

Conduzido pela médica Nair Ygnatios e colaboradores da Universidade Federal de Minas Gerais e Fiocruz Minas, o levantamento revela que fatores como tabagismo podem antecipar a menopausa, enquanto a prática de atividade física e o sobrepeso estão associados a um início mais tardio. Esses dados sublinham o impacto dos hábitos de vida na saúde reprodutiva e no envelhecimento feminino.

Para muitas, a menopausa traz não apenas mudanças biológicas, mas também sintomas que afetam o bem-estar diário, como ondas de calor, insônia e alterações de humor. Nesse contexto, entender essa etapa natural e considerar opções como a Terapia de Reposição Hormonal pode oferecer alívio e qualidade de vida.

O que é Terapia de Reposição Hormonal?

A reposição hormonal envolve o uso de hormônios para aliviar os sintomas causados pela queda de estrogênio e progesterona no corpo feminino durante a menopausa. No entanto, a decisão de usar essa terapia deve sempre ser feita com orientação médica, pois os benefícios e riscos variam de acordo com cada paciente.

As novas diretrizes para a Terapia de Reposição Hormonal na menopausa, fruto da colaboração entre a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Associação Brasileira de Climatério (Sobrac), destacam a importância de iniciá-la dentro de uma janela de oportunidade. Esse período seria nos primeiros 10 anos após o início da menopausa ou antes dos 60 anos. 

Entretanto, o cenário muda para aquelas que já passaram dessa fase. Para mulheres com mais de 60 anos ou que vivem há mais de uma década desde o início da menopausa, a recomendação é de cautela. Iniciar a TRH fora da janela indicada pode trazer riscos aumentados de doenças cardiovasculares, tromboembolismo venoso e acidentes vasculares cerebrais. Nesses casos, a regra geral é evitar a terapia hormonal, a menos que uma avaliação médica detalhada indique ser realmente necessário.

Mitos e verdades sobre a TRH

 Mito ou verdade: “Toda mulher na menopausa deve fazer reposição hormonal”

Mito. A reposição hormonal não é obrigatória para todas as mulheres. Ela é indicada para aquelas que apresentam sintomas moderados a graves de menopausa e que não possuem contraindicações. Segundo a Febrasgo, TRH é recomendada apenas quando os sintomas afetam a qualidade de vida da paciente, e o médico deve avaliar riscos individuais, como histórico de câncer e doenças cardiovasculares.

 Mito ou verdade: “A reposição hormonal causa câncer”

Parcialmente verdadeiro. Estudos sugerem que o uso de TRH, especialmente a terapia combinada de estrogênio e progesterona, pode aumentar o risco de certos tipos de câncer, como o de mama. Segundo a American Cancer Society, o risco depende do tempo de uso da terapia e de outros fatores pessoais. Mulheres devem discutir os riscos com seus médicos para decidir a melhor abordagem.

 Mito ou verdade: “A TRH melhora os sintomas da menopausa imediatamente”

Mito. A reposição hormonal não atua de forma imediata. Leva algumas semanas para que os hormônios comecem a aliviar os sintomas. Segundo estudos publicados pela OMS, a maioria das mulheres observa uma redução gradual nos sintomas após algumas semanas de tratamento.

 Mito ou verdade: “TRH é segura para mulheres acima dos 60 anos”

Mito. A recomendação geral é que seja usada com cautela em mulheres mais velhas, especialmente após os 60 anos. O FDA alerta que a terapia prolongada pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e trombose. Para as mulheres que iniciaram mais jovens, a continuidade do tratamento precisa ser cuidadosamente avaliada pelo médico.

Benefícios da Terapia de Reposição Hormonal na menopausa

A Terapia de Reposição Hormonal na menopausa oferece benefícios para mulheres que sofrem com os sintomas da menopausa, especialmente quando iniciada na “janela de oportunidade”, ou seja, nos primeiros 10 anos após o início da menopausa ou antes dos 60 anos. Esse tratamento ajuda a aliviar os sintomas da transição hormonal e a promover o bem-estar geral, com impactos tanto físicos quanto psicológicos. 

Melhora dos sintomas vasomotores

Fogachos (ondas de calor) e suores noturnos são alguns dos sintomas mais comuns e incômodos da menopausa. Esses sintomas podem interferir no sono e na qualidade de vida, levando à fadiga e irritabilidade. A terapia hormonal ajuda a regular a temperatura corporal e a reduzir a frequência e a intensidade desses episódios, proporcionando um alívio significativo e uma melhor qualidade de sono para a paciente.

Aumento da Densidade Óssea e Prevenção da Osteoporose

Com a queda dos níveis de estrogênio na menopausa, a densidade óssea pode diminuir, aumentando o risco de osteoporose e fraturas, especialmente em áreas como quadril, coluna e punhos. A reposição hormonal contribui para a saúde óssea ao reduzir a perda de massa óssea e melhorar a densidade óssea. Esse benefício é especialmente importante para mulheres com histórico familiar de osteoporose ou que apresentam outros fatores de risco para a doença, oferecendo uma medida preventiva que pode reduzir a incidência de fraturas.

Qualidade de vida e bem-estar mental

A menopausa pode estar associada a mudanças de humor, aumento dos sintomas de depressão e ansiedade, além de impacto na autoestima e nas relações pessoais. A TRH contribui para o equilíbrio hormonal, o que pode melhorar o humor e reduzir a ansiedade, promovendo um efeito positivo sobre o bem-estar mental. Estudos demonstram que a reposição hormonal está associada a uma diminuição nos sintomas depressivos e ansiosos em mulheres menopausadas, proporcionando maior estabilidade emocional e ajudando a enfrentar essa fase com mais tranquilidade.

Saúde cardiovascular

A queda de estrogênio durante a menopausa pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como hipertensão, arteriosclerose e infartos. Em mulheres saudáveis que iniciam a terapia hormonal na janela de oportunidade, o estrogênio pode ter um efeito protetor para o sistema cardiovascular, melhorando a função dos vasos sanguíneos e ajudando a controlar os níveis de colesterol. No entanto, é importante que o início seja discutido com o médico para avaliar individualmente os riscos e benefícios, principalmente em mulheres com histórico de problemas cardíacos.

Saúde vaginal e sexualidade

A diminuição do estrogênio também afeta a saúde vaginal, causando sintomas como secura vaginal, dor durante as relações sexuais e redução do desejo sexual. A terapia hormonal pode ajudar a restaurar a lubrificação vaginal, melhorar a elasticidade dos tecidos e reduzir o desconforto. Esses efeitos promovem uma vida sexual mais satisfatória e ajudam a manter a saúde vaginal, evitando infecções e problemas urinários associados à atrofia vaginal.

Tipos de Terapia de Reposição Hormonal

A terapia hormonal para a menopausa pode ser personalizada de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. A escolha do tipo de terapia depende de fatores como o histórico de saúde, a presença ou ausência de útero e os sintomas apresentados. Entre os principais tipos de terapia estão:

Terapia Hormonal Combinada (estrogênio e progesterona)

Essa combinação é indicada para mulheres que ainda possuem útero, pois o uso isolado de estrogênio pode aumentar o risco de câncer no endométrio, o revestimento interno do útero. A progesterona, ao ser administrada junto com o estrogênio, ajuda a proteger o endométrio, diminuindo esse risco.

A terapia combinada pode ser administrada de forma contínua ou cíclica, dependendo da preferência da paciente e da orientação médica. Na forma contínua, o estrogênio e a progesterona são tomados diariamente, o que tende a eliminar os ciclos menstruais. Na forma cíclica, a progesterona é administrada apenas em parte do mês, o que pode resultar em sangramentos regulares, similares a uma menstruação leve.

Terapia com estrogênio isolado

Indicada para mulheres que passaram por histerectomia (remoção do útero), já que, sem o útero, não há risco de câncer endometrial, tornando desnecessário o uso da progesterona. O estrogênio isolado pode ser eficaz para tratar sintomas como ondas de calor, secura vaginal e mudanças de humor. A administração de estrogênio pode ser feita por meio de comprimidos, adesivos, géis, implantes ou cremes vaginais. A escolha da via de administração depende das necessidades da paciente e das orientações do médico, sendo que cada formato pode ter impactos distintos sobre a eficácia e possíveis efeitos colaterais.

Terapia com estrogênio local

Em casos onde os sintomas são restritos à área vaginal, como secura, dor durante a relação sexual e desconforto vaginal, a terapia com estrogênio local pode ser uma alternativa. O estrogênio é administrado diretamente na vagina, geralmente na forma de creme, comprimidos ou anéis vaginais. Essa terapia proporciona alívio dos sintomas locais sem que grandes quantidades de estrogênio entrem na corrente sanguínea, reduzindo os riscos sistêmicos associados à terapia hormonal.

Terapia bioidêntica

Apesar da controvérsia na comunidade científica, a terapia hormonal bioidêntica tem ganhado popularidade. Essa terapia utiliza hormônios com estrutura química idêntica à dos hormônios humanos, como o estrogênio e a progesterona. No entanto, nem todos os tratamentos são aprovados pelas agências reguladoras, como a Anvisa. Médicos preferem tratamentos convencionais, pois acreditam que eles oferecem maior controle de qualidade e segurança.

Riscos da Terapia da Reposição Hormonal na menopausa

Apesar dos benefícios, a Terapia de Reposição Hormonal na menopausa apresenta alguns riscos que devem ser cuidadosamente avaliados, especialmente para mulheres com histórico de condições específicas. Esses riscos variam conforme o tipo de terapia, a dosagem e a duração do tratamento, bem como o perfil de saúde individual da paciente. Assim, é essencial um acompanhamento médico rigoroso antes e durante o procedimento. Abaixo, destacam-se alguns dos principais riscos associados à terapia hormonal:

Doenças cardiovasculares

A Terapia de Reposição Hormonal na menopausa pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, especialmente quando iniciada após os 60 anos ou mais de 10 anos após o início da menopausa. Mulheres com histórico de hipertensão, doença cardíaca ou colesterol elevado devem discutir cuidadosamente com o médico se é a melhor opção, pois a terapia pode elevar a probabilidade de infarto e derrame em algumas situações. Esse risco é mais acentuado em mulheres que iniciam a terapia fora da janela de oportunidade, evidenciando a importância do início precoce e do monitoramento contínuo.

Câncer de mama

O uso prolongado de terapia hormonal, especialmente a terapia combinada (estrogênio e progesterona), está associado a um aumento no risco de câncer de mama. Estudos mostram que mulheres que fazem uso da Terapia de Reposição Hormonal na menopausa por mais de cinco anos podem apresentar um risco mais elevado, embora esse risco diminua gradualmente após a interrupção da terapia. É importante que mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou outros fatores de risco discutam alternativas e façam exames regulares de acompanhamento, como a mamografia, para monitorar qualquer alteração.

Tromboembolismo venoso

A TRH pode aumentar o risco de formação de coágulos sanguíneos nas veias (trombose venosa profunda) e de embolia pulmonar, condições potencialmente graves que exigem atenção médica imediata. Esse risco é mais elevado em mulheres que já possuem fatores predisponentes para trombose, como obesidade, tabagismo e histórico de tromboembolismo. Para essas pacientes, o médico pode recomendar terapias alternativas ou o uso de hormônios por vias menos arriscadas, como o estrogênio transdérmico, que é aplicado na pele e pode apresentar menor impacto no sistema de coagulação.

Câncer de endométrio

Para mulheres que possuem útero, o uso de estrogênio isolado (sem progesterona) aumenta o risco de câncer de endométrio, pois o estrogênio estimula o crescimento do revestimento do útero. A terapia combinada, que inclui progesterona, é recomendada nesses casos para reduzir esse risco. Mulheres que fazem uso de estrogênio sem a adição de progesterona devem monitorar sinais de sangramento uterino anormal e manter consultas regulares com o ginecologista.

Cada tipo de terapia hormonal apresenta diferentes vantagens e possíveis riscos. A decisão de iniciar a terapia hormonal e a escolha do tipo de tratamento devem ser feitas em conjunto com o médico. Devem se levado em consideração o perfil de saúde da paciente e as recomendações das diretrizes de saúde. Os riscos também mostram a a importância de exames regulares, como mamografia, ultrassonografia transvaginal, e exames de sangue para monitorar os níveis hormonais e saúde cardiovascular.

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