Graus da obesidade: como são definidos e o que muda

A obesidade é uma condição classificada por diferentes graus conforme o Índice de Massa Corporal (IMC). Essa escala é utilizada para estimar o acúmulo de gordura corporal e os riscos metabólicos associados. Cada grau representa uma progressão no impacto da obesidade sobre a saúde e requer estratégias específicas de manejo.

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 22% da população brasileira adulta vive com obesidade. Em muitos casos, o diagnóstico só ocorre nos graus mais avançados, quando já há complicações como hipertensão, diabetes tipo 2 ou doenças cardiovasculares.

📌 Compreender os graus da obesidade é fundamental para identificar o momento de intervenção e reduzir o risco de agravamento clínico.

Como são definidos os graus da obesidade?

A classificação dos graus da obesidade é baseada no Índice de Massa Corporal (IMC), principal ferramenta utilizada para estimar o excesso de gordura corporal e os riscos à saúde. Esse parâmetro é adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde no Brasil.

O IMC permite identificar se a pessoa está com sobrepeso ou algum grau de obesidade, além de orientar a conduta clínica e o monitoramento de comorbidades associadas.

📏 Como calcular o IMC?

O IMC é calculado com a seguinte fórmula:

IMC = peso (kg) ÷ altura² (m)

O resultado numérico obtido é comparado com a tabela de referência:

Classificação IMC (kg/m²)
Sobrepeso 25 a 29,9
Obesidade grau 1 30 a 34,9
Obesidade grau 2 35 a 39,9
Obesidade grau 3 40 ou mais

 

🔎 Quanto maior o IMC, maior o risco de complicações metabólicas, cardiovasculares, osteoarticulares e psicossociais.

❓ O IMC sozinho é suficiente?

Apesar de ser amplamente utilizado, o IMC tem limitações importantes:

  • Não distingue massa magra de gordura corporal
  • Não mostra onde a gordura está localizada
  • Pode gerar distorções em pessoas com muita massa muscular ou retenção de líquidos

Por isso, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), recomenda que a avaliação do grau de obesidade seja sempre complementada por outros parâmetros clínicos.

📏 Circunferência abdominal

A circunferência abdominal mede a gordura acumulada na região do abdômen. Valores elevados indicam maior risco de doenças cardiovasculares e metabólicas.

  • Homens: risco aumentado a partir de 94 cm
  • Mulheres: risco aumentado a partir de 80 cm

Esse tipo de gordura está diretamente ligado à síndrome metabólica, resistência à insulina e doenças do fígado.

⚖️ Percentual de gordura corporal (via bioimpedância ou DEXA)

A medição do percentual de gordura corporal pode ser feita por exames como:

  • Bioimpedância elétrica
  • Densitometria por DEXA

Esses métodos permitem diferenciar a massa magra da massa gorda, avaliando com mais precisão a composição corporal. São úteis especialmente no acompanhamento de pessoas em tratamento da obesidade grau 2 ou 3.

🧬 Histórico clínico e familiar de doenças crônicas

O histórico médico e familiar ajuda a prever o risco de complicações. Entre os antecedentes mais relevantes estão:

  • Diabetes tipo 2
  • Hipertensão arterial
  • Dislipidemias
  • Doença cardiovascular precoce

Essas informações guiam o acompanhamento clínico e as condutas preventivas.

🧪 Exames laboratoriais: glicemia, perfil lipídico, função hepática e renal

A avaliação laboratorial complementa o diagnóstico e permite mapear alterações metabólicas associadas aos graus da obesidade. Os exames mais solicitados são:

  • Glicemia de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c)
  • Colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos
  • Enzimas hepáticas (TGO, TGP, GGT)
  • Creatinina e ureia

Esses marcadores ajudam a definir nível de risco cardiovascular, presença de doença hepática gordurosa e possíveis alterações renais associadas à obesidade.

Obesidade grau 1: sinais de alerta

A obesidade grau 1 é o estágio inicial da doença, definido por um IMC entre 30 e 34,9 kg/m². Apesar de ser considerada uma forma leve, já representa risco aumentado para diversas condições metabólicas e cardiovasculares. Identificar esse grau precocemente permite intervenções eficazes e possibilidade real de reversão do quadro.

📌 A abordagem nesse estágio foca em mudanças sustentáveis no estilo de vida e monitoramento clínico.

🔎 Quais são os sinais de alerta?

Mesmo em níveis iniciais, a obesidade pode causar impactos no organismo. Alguns sinais frequentes incluem:

  • Fadiga ao realizar esforços moderados
  • Aumento da circunferência abdominal
  • Início de alterações na glicemia ou colesterol
  • Elevação leve da pressão arterial
  • Início de apneia leve do sono ou roncos noturnos

Esses sinais indicam que o organismo já começa a sofrer as consequências do excesso de gordura corporal, principalmente na região abdominal.

⚠️ Quais os riscos da obesidade grau 1?

Segundo a Abeso, a obesidade grau 1 está associada a:

  • Risco aumentado de diabetes tipo 2
  • Desenvolvimento precoce de hipertensão arterial
  • Dislipidemia leve a moderada
  • Síndrome metabólica
  • Alterações hormonais, especialmente em mulheres
  • Estigmatização precoce e prejuízos na autoestima

O risco tende a crescer com o tempo, principalmente se houver histórico familiar de doenças crônicas.

🔄 É possível reverter a obesidade grau 1?

Sim. Esse é o momento mais indicado para iniciar mudanças com maior chance de remissão do quadro. As estratégias incluem:

  • Adotar um plano alimentar personalizado, com redução do consumo de ultraprocessados
  • Iniciar a prática regular de atividade física supervisionada
  • Implementar mudanças no sono e na rotina de estresse
  • Contar com acompanhamento de nutricionista, médico e psicólogo
  • Monitorar os parâmetros metabólicos com frequência

💡 Intervenções consistentes nesse estágio reduzem o risco de progressão para obesidade grau 2 e melhoram a qualidade de vida.

Obesidade grau 2: quando os riscos se tornam mais evidentes

A obesidade grau 2 é definida por um IMC entre 35 e 39,9 kg/m². Nessa fase, os impactos do excesso de gordura sobre o organismo se tornam mais pronunciados, com maior risco de doenças crônicas, limitações funcionais e alterações metabólicas graves.

📌 O acompanhamento profissional torna-se indispensável nesse estágio, com possibilidade de indicação de tratamento medicamentoso e, em alguns casos, avaliação para cirurgia bariátrica.

📉 Quais são os impactos clínicos da obesidade grau 2?

Os efeitos sobre a saúde já são sistêmicos. Entre os mais frequentes:

  • Resistência à insulina e diabetes tipo 2 instalado
  • Hipertensão arterial persistente
  • Dislipidemias com alterações importantes no colesterol e triglicerídeos
  • Esteatose hepática (fígado gorduroso não alcoólico)
  • Síndrome do ovário policístico em mulheres jovens
  • Dores articulares, especialmente nos joelhos, quadris e coluna lombar

Segundo a Abeso, o risco cardiovascular é significativamente elevado a partir desse grau.

🧠 E os efeitos na saúde mental?

A obesidade grau 2 também está associada a maior prevalência de:

  • Depressão e ansiedade
  • Baixa autoestima
  • Transtornos alimentares, como compulsão
  • Isolamento social e medo de julgamento em ambientes públicos

O estigma vivido por pessoas com obesidade grau 2 compromete o acesso à saúde e à vida social, agravando o quadro emocional.

💊 Quais são as opções de tratamento?

O tratamento da obesidade grau 2 envolve estratégias combinadas e mais estruturadas:

  • Plano alimentar supervisionado e, se necessário, com uso de fórmulas nutricionais
  • Exercício físico adaptado, com atenção à mobilidade e dores articulares
  • Terapia cognitivo-comportamental para manejo emocional
  • Medicamentos antiobesidade, sob prescrição e acompanhamento médico
  • Avaliação do risco cirúrgico para bariátrica, quando o tratamento clínico não é suficiente

📌 A indicação de cirurgia bariátrica ocorre quando o IMC é ≥ 35 com comorbidades associadas.

Obesidade grau 3: complicações graves e critérios para cirurgia

A obesidade grau 3 é o estágio mais avançado da condição, caracterizado por um IMC igual ou superior a 40 kg/m². Também chamada de obesidade severa ou mórbida, essa classificação está associada a risco muito elevado de mortalidade precoce, além de impactos severos sobre a qualidade de vida, mobilidade e saúde mental.

📌 O tratamento exige abordagem multiprofissional e, frequentemente, envolve avaliação para cirurgia bariátrica.

🚨 Quais são as principais complicações?

Nesta fase, as comorbidades são comuns e frequentemente já estão instaladas. Entre elas:

  • Diabetes tipo 2 de difícil controle
  • Hipertensão arterial grave e resistente
  • Apneia obstrutiva do sono com impacto funcional
  • Doenças cardiovasculares precoces (como infarto e AVC)
  • Disfunção hepática (esteato-hepatite e risco de cirrose)
  • Problemas ortopédicos severos, com perda de mobilidade

De acordo com a Abeso, a obesidade grau 3 pode reduzir significativamente a expectativa de vida.

🧠 Como a saúde mental é afetada?

O impacto emocional costuma ser ainda mais acentuado nesse estágio, com relatos frequentes de:

  • Depressão grave
  • Ansiedade social
  • Autoimagem negativa
  • Barreiras no acesso ao sistema de saúde
  • Vulnerabilidade a discriminação e preconceito, inclusive em atendimentos médicos

Esse cenário reforça a necessidade de acolhimento psicológico estruturado e combate ao estigma.

🏥 Quando a cirurgia bariátrica é indicada?

A cirurgia bariátrica é recomendada, segundo o Ministério da Saúde e as diretrizes da Abeso, nos seguintes casos:

  • IMC ≥ 40, independente de comorbidades
  • IMC ≥ 35 com uma ou mais doenças associadas (diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão, dislipidemia, entre outras)

A avaliação inclui:

  • Histórico clínico e tentativas de tratamento clínico prévio
  • Avaliação multiprofissional (endocrinologia, psicologia, nutrição, cirurgia)
  • Estudo da adesão ao tratamento pós-operatório

📌 A cirurgia não é uma solução imediata. Ela faz parte de um processo contínuo de acompanhamento e mudança de hábitos.

Existe reversão dos graus da obesidade?

A reversão da obesidade é possível em muitos casos, especialmente nos graus 1 e 2, desde que haja acompanhamento profissional contínuo, estratégias individualizadas e adesão às mudanças de comportamento. O termo mais adequado, segundo a literatura médica, é remissão da obesidade — e não “cura”.

📌 A remissão envolve a redução sustentada do IMC e das comorbidades associadas, com melhora da saúde metabólica e funcional.

🔄 O que é considerado remissão?

A remissão da obesidade ocorre quando há:

  • Redução do grau de obesidade pelo IMC (por exemplo, de grau 2 para grau 1 ou sobrepeso)
  • Melhora ou normalização de parâmetros clínicos, como glicemia, colesterol e pressão arterial
  • Manutenção do novo peso corporal por 12 meses ou mais
  • Estabilização do comportamento alimentar e emocional

Esse conceito é semelhante ao utilizado em doenças como o diabetes tipo 2.

📋 Estratégias para alcançar a remissão

As chances de sucesso aumentam quando o plano inclui:

  • Intervenção nutricional estruturada com acompanhamento regular
  • Exercício físico supervisionado com progressão segura
  • Apoio psicológico contínuo, especialmente em casos de compulsão ou estigmatização
  • Monitoramento metabólico constante, com metas individualizadas
  • Uso de medicamentos antiobesidade ou, em casos específicos, cirurgia bariátrica

💡 A remissão da obesidade não depende apenas da força de vontade, mas do acesso a uma rede de cuidados adequada.

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